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Madeira

Partilhar edições pagas de jornais põe em risco posto de trabalho dos jornalistas

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Directores de vinte jornais e revistas nacionais com edições em papel assinaram uma carta conjunta contra crimes de pirataria que põem em causa “a imprensa livre.” O documento divulgado dá conta de que “diariamente, versões em PDF, com a totalidade dos jornais e revistas nacionais, são partilhadas por e-mail, whatsapp ou em redes sociais, numa clara violação dos direitos de autor”, lê-se nessa carta.

A Empresa Diário de Notícias (EDN) também já tinha enviado uma exposição a Vincent Peyrègne, CEO da WAN-IFRA (World Association of News Publishers) sobre o mesmo assunto, em Setembro passado: “Gostava de ter a sua opinião sobre este assunto. É um grande problema que temos no Diário e julgo que não seremos os únicos. No WhatsApp e no Telegram há vários grupos de jornais (acima de 500 pessoas) que partilham ilegalmente as nossas versões e-paper, falamos de espectro nacional/internacional”, começa o e-mail. Depois de explicar o vazio legal de que o país sofre para combater este problema, impedindo que seja travado, bem como alguns métodos utilizados pelo DIÁRIO para tentar reduzir a reprodução ilegal das edições e-paper, fica q uestão: “Como podemos parar isto? Tenho de certeza que outros jornais terão o mesmo problema”.

Passados meses de conversas e trocas de ideias entre profissionais de vários jornais internacionais, chegou outra resposta à EDN, em Dezembro. Vincent Peyrègne levou o assunto para o Comité de Directores, bem como discutiu o tema com o responsável pela WAN-IFRA para o mercado latino americano. O CEO da World Association of News Publishers pesquisou ainda sobre o que se passa no mercado italiano, encontrando um grupo de Telegram, para esse efeito, com 46,3K de utilizadores registados: “A partilha é apenas dos PDF de jornais, e não ‘printscreens’ de conteúdos pagos. Claro que o problema também é para conteúdos de vídeo e eBooks. Receio que não possamos encontrar uma solução para o problema. A opinião geral entre os directores é que o problema é bastante limitado considerando que só são partilhados os PDF e essa circunstância não é fácill para o utilizador usufruir do jornal roubado no seu ecrã de telemóvel”. O CEO acrescenta que os mercados em questão não estão preocupados com este fenómeno. E termina: “Tenho pena por não trazer boas notícias. Por favor diga-me se tiverem ideias de como proceder”.

A questão já tinha sido debatida, também, em reunião do Sindicato dos Jornalistas, recordou ao DIÁRIO o presidente da Direcção Regional da Madeira do Sindicato dos Jornalistas, António Macedo Ferreira: “O assunto da partilha de PDF não é novo. Agravou-se agora com o acesso maior por parte das pessoas aos jornais por causa da situação em que vivemos. Já foi discutido no último encontro organizado pelo Sindicato dos Jornalistas, em Cascais, com o apoio da Presidência da República. Foi discutido nessa reunião e até ao momento não se encontrou nenhuma solução concreta a não ser pedir aos leitores que não partilhem e que percebam que os jornais também precisam de vender para serem sustentáveis”.

Como, aliás, decidiram fazer agora os vinte directores de jornais portugueses nacionais: “Obviamente que nós concordamos com o pressuposto: garantir que os jornais sobrevivam e, por essa via também, que os jornalistas se mantenham nos seus postos de trabalho. Agora, lamentavelmente, esta iniciativa nacional não inclui os jornais da imprensa regional e isso é uma falha. Percebo que os jornais nacionais têm a dimensão nacional e isso atribui-lhes uma importância diferente porque são jornais para todo o território português. Agora os jornais regionais como os que temos aqui, o Diário de Notícias e o JM, são jornais que têm edições electrónicas bastante consultadas. Não sei se sofrem dessa questão de partilhar PDF das edições pagas porque não tenho nenhum conhecimento de que isso aqui esteja na ordem do dia. Não tenho nenhuma informação sobre essa questão em concreto ”, refere António Macedo Ferreira.

O também jornalista da TSF-Madeira defende que a questão também deve ser colocada aos jornais na Madeira, uma vez que “obviamente, se as pessoas estão a partilhar as edições pagas, ninguém as vai pagar e por essa via os jornalistas também estão em risco porque as empresas não conseguem ser sustentáveis, não conseguem pagar os salários e nem comportar os custos que têm”.

“Outro aspecto que acho relevante é, eventualmente, perguntar aos jornais da Madeira se eles próprios não iniciam também uma campanha com outros jornais regionais do resto do país e fazerem também um apelo aos seus leitores para que não partilhem ficheiros em PDF com as edições que são pagas. Podia ser uma sugestão isso também partir da Madeira”, defende.

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