Ensino à distância, “#EstudoEmCasa” e “Telensino”
Os professores já passaram por tudo, ou quase tudo, as nossas capacidades de adaptação e de implementação de novas pedagogias, em prol dos nossos alunos, têm sido demonstradas ao longo dos anos e, nesta conjuntura de pandemia de Covid-19, a postura tem sido, novamente, exemplar. Apesar das dificuldades e constrangimentos, os professores estavam preparados, na sua maioria, e quem não sentia preparado procurou formação e ajuda, para este tempo desigual cheio de renovadas exigências ao nível das metodologias de trabalho e da literacia tecnológica, sempre disponíveis para colocar os seus computadores pessoais, os seus smartphones, os seus telemóveis, a sua internet e dados móveis ao dispor de uma escola a distância complementada agora, e bem, com conteúdos programáticos transmitidos pela televisão, “#EstudoEmCasa” e “Telensino”, numa espécie de nova versão da antiga telescola.
A modalidade de estudar em casa, sem presença na escola, não é uma novidade no nosso sistema de ensino. Há muitos anos que essa forma de concluir a escolaridade obrigatória é uma prática. Por exemplo, a modalidade de oferta educativa e formativa de ensino a distância é utilizada em diversas situações com caráter temporário ou permanente, destacando-se, entre outras, a dos alunos com problemas de fobia escolar ou outros problemas de saúde bastante graves. Funciona através de uma plataforma digital, constituída por salas de aulas virtuais, organizadas de acordo com os níveis de ensino. O Ensino doméstico é uma outra possibilidade. Os alunos aprendem em casa, a família assume a responsabilidade do percurso do aluno e da operacionalização do currículo, vêm à escola apenas fazer as provas e os exames. Na região, havia 8 crianças em casa a frequentar essa modalidade de ensino, no país estão 900 alunos matriculados. O e-learning surge como um outro modelo de ensino não presencial, com o apoio das novas tecnologias de informação e comunicação, tudo num ambiente online. Ao nível do ensino superior, a Universidade Aberta tem vindo a cumprir a sua vocação de trabalhar com as metodologias e tecnologias de ensino a distância, desde1988.
Estes exemplos provam que os professores e as escolas vivem com estes modelos de ensino, em regimes de não presencial, há imenso tempo, embora sempre dirigidos a públicos específicos.
A realidade imposta pela pandemia do Covid-19 é diferente, porque envia todos para casa, sem exceções, criando uma outra dimensão ao ensino a distância. Os alunos, com condições financeiras, habitacionais, culturais e oriundos de famílias que valorizam a formação e o papel da Escola na vida dos seus filhos, garantindo, quando necessário, explicações e outros apoios, estão motivados e em condições de atingirem o sucesso neste e em outro qualquer modelo de aprendizagem.
Existem também os outros alunos, e não são assim tão poucos, os que não usufruem dos mesmos contextos. Uns apresentam enormes dificuldades de aprendizagem e de concentração, outros, ou os mesmos, não têm possibilidades económicas nem condições materiais, emocionais ou motivacionais para enfrentarem da mesma forma este tipo de ensino. Torna-se pertinente relembrar que 66% dos nossos alunos estão cobertos pela Ação Social Escolar, 3 700 estão sinalizados com Necessidades Educativas Especiais e 81 mil madeirenses encontram-se em risco de pobreza.
Nesta época de confinamento, o esforço para encontrar estratégias, opções de trabalho e mecanismos de interação regular entre os professores e os alunos, de modo a preservar, durante este período escolar ou semestre, o vínculo à escola, ao estudo e às aprendizagens é, indiscutivelmente, importante e tem de ser valorizado pela sociedade.
Todavia, não nos deixemos enganar nem cair na tentação de acreditar que o ensino a distância e a telescola estão a garantir a igualdade de oportunidades a todos e a cada um dos alunos no acesso às suas aprendizagens, só porque, de acordo com os inquéritos realizados, a maioria das famílias possui, em casa, um computador, alguma internet e uma televisão. Não, não estão a garantir.
Por isso mesmo, para que essa realidade não seja nunca obnubilada, termino com este alerta - tentar fazer passar uma imagem de normalização da Escola e do Ensino com a apresentação de alguns exemplos de sucesso, fazendo de conta que não existem todas as outras realidades, não é justo nem honra a verdadeira missão da escola.