Responsabilidade e verdade
Não está tudo bem. Ainda não está. Já todos imaginamos o regresso à normalidade, à rotina diária, a ida ao restaurante ou ao café da esquina tomar a bica matinal. Foi assim que fomos educados, foi assim que crescemos, é assim que estamos habituados, mas o período de confinamento e as medidas restritivas para travarem a propagação de um vírus ainda desconhecido são (ainda) fundamentais. Se assim não fosse estaríamos, porventura, a chorar centenas de mortes, debruçados sobre um serviço de saúde, que é débil, em ruptura total. Não haja ilusões quanto a isso. Nenhum país estava preparado para o que aí veio e todos os que menosprezaram os avisos das autoridades sanitárias pagaram e estão ainda a pagar um preço bastante elevado. Não sabemos quantificar os custos que a covid-19 vai aportar à economia. Sabemos que são de uma ordem de grandeza monumental. Há um antes e há um pós-pandemia.
Muito se tem falado nos últimos dias da retoma económica e social. Depois da imposição do medo, chega a necessidade de se abrir o ‘portão’ para que a vida regresse à normalidade e os impostos voltem a entrar na máquina do Estado. Tudo isso é desejável, mas a prudência e o bom senso têm de imperar. Por mais que queirenis não podemos, para já, regressar aos convívios, aos espectáculos, às praias, à vida social. Temos de ser pacientes. A desejada retoma não pode sobrepor-se às indicações da melhor evidência científica, que determina prudência.
Este é o tempo da ciência e da solidariedade sem fronteiras. Nada funcionará sem uma ajuda global e efectiva, entre estados, da Europa, da República para com as regiões autónomas, com os municípios, sem nenhum tipo de filtros ou medos.
Quem nos governa tem de ter o discernimento de não sucumbir a nenhuma pressão. Tem de ser determinado, mas humilde, de informar sem tabus nem trunfos na manga e de reconhecer quando erra. Tem de admitir que já deveriam ter sido feitos (muitos) mais testes e que falhou em vários casos. Estamos todos no mesmo barco, mas dispensamos sobrancerias. Já temos uma série de infectados diagnosticados após o período de quarentena ou de confinamento obrigatário. Temos uma situação potencialmente explosiva na freguesia de Câmara de Lobos, na qual foi instalada uma cerca sanitária, a primeira na Região. Houve alguma falha ou algum desleixo por parte da autoridade de saúde?
Porque motivo as pessoas não foram nem são testadas a tempo e horas, se uma das indicações internacionais é testar, testar, testar?
Como disse e bem o primeiro-ministro o Verão não vai acabar com o vírus, nem o uso de máscara pode gerar uma sensação de protecção total às pessoas.
É contraproducente dar um sinal de abertura que não se possa depois efectivar. Infelizmente os restaurantes ainda não podem funcionar com a sala cheia de clientes, nem os supermercados. Não podemos morrer na praia, como frisou o Presidente da República. A luz está ao fundo do túnel, mas ainda não o podemos atravessar.
2020 está hipotecado para as famílias e para muitas empresas. Dificilmente haverá férias, porque deixaram de ser prioritárias neste quadro e porque os dados e os sinais transmitidos mandam a cautela prevalecer em relação a deslocações e ajuntamentos em hotéis, resorts, complexos balneares e festivais.
O caminho das pedras imposto pela pandemia tem de ser percorrido com responsabilidade. A reabertura social e económica tem de ser gradual, progressiva, segura e controlada. Câmara de Lobos é o exemplo acabado de como tudo pode derrapar de um momento para o outro.
2. As aulas recomeçam amanhã, num quadro totalmente novo, que requer a disponibilidade de meios e equipamentos que nem todas as famílias dispõem. O presidente do Governo Regional referiu que é residual o número de estudantes que não tem computador. O que não corresponde de todo à verdade. Se numa casa existe um aparelho para duas crianças em idade escolar, uma delas será prejudicada. Se um dos pais estiver em teletrabalho, como milhares estão neste momento, então a situação agudiza-se. Neste quadro particular o Governo Regional tem de fazer um esforço suplementar e disponibilizar os mesmos meios para todos os alunos. Todos têm de estar em pé de igualdade neste regresso atribulado às aulas.