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MP acusa homem que foi buscar jovem a Barcelona e a sequestrou em garagem no Seixal

FOTO LEONARDO NEGRÃO
FOTO LEONARDO NEGRÃO

O homem que foi buscar a ex-namorada a Barcelona e a trancou numa garagem em Paio Pires, no concelho do Seixal, acusado de violência doméstica e de sequestro, começa a ser julgado na segunda-feira, em Almada.

A acusação do Ministério Público (MP), a que a agência Lusa teve hoje acesso, relata inúmeros episódios de agressões físicas, de ameaças de morte e de ofensas verbais, entre maio de 2017 e 21 de agosto de 2019, dia em que a jovem conseguiu escapar da garagem para onde foi levada pelo arguido, depois deste a ir buscar a Barcelona, cidade para a qual a jovem tinha ido um mês antes devido “às agressões, ameaças e humilhações que vinha sofrendo”.

A acusação diz que o arguido, de 31 anos e em prisão preventiva no Estabelecimento Prisional do Montijo, e a vítima iniciaram uma “relação amorosa” depois de se conhecerem em fevereiro de 2017, numa loja de conveniência, na Faculdade de Ciências, em Lisboa.

“Cerca de dois meses após o início do relacionamento, o caráter ciumento do arguido revelou-se e passou a ter uma conduta possessiva e controladora para com a ofendida: controlando a roupa que vestia, proibindo-a de vestir determinadas peças, como calções, exigindo saber a que horas acedia e saía das redes sociais, querendo saber onde se encontrava, exigindo que lhe enviasse por telemóvel ‘prints’ com indicação da sua localização, data e hora, e proibindo-a de estabelecer qualquer tipo de relações de amizade com outras pessoas”, descreve a acusação.

O MP conta que “as primeiras agressões físicas” (bofetadas e empurrões) aconteceram em maio/junho de 2017, acrescentando que, em meados de junho, o arguido entrou na residência da jovem, sem o seu conhecimento: “quando a ofendida chegou, desferiu-lhe pancadas e apertou-lhe o pescoço, perguntando por onde andara e disse-lhe: ‘dou cabo de ti, eu mato-te’”.

No dia seguinte, o arguido “pediu desculpa” à vítima por mensagem de telemóvel, mostrando-se arrependido. Contudo, segundo o MP, partir daí, “o seu comportamento violento ainda mais se agravou”.

“Agredindo-a física e verbalmente, desferindo-lhe murros e pontapés por todo o corpo, puxando-lhe o cabelo, arrastando-a pelo chão agarrada pelo cabelo, batendo-lhe com a cabeça contra as paredes e contra o veículo, fosse em casa, fosse na via pública, provocando-lhe hematomas e dirigindo-lhe as seguintes expressões: ‘(...) não vales nada, vou-te matar, acabo com a tua vida, não tenho problemas nenhuns em bater-te como bato em homens, não és minha, não és de mais ninguém’, e dizia-lhe que se ela denunciasse tais factos iria dar cabo da sua vida e que jamais aceitaria o ‘terminus’ da relação”, sustenta a acusação.

Em 29 de julho de 2019, devido ao “medo e às agressões, ameaças e humilhação”, a jovem foi residir com uma tia na cidade de Sant Pere de Ribes, perto de Barcelona, Espanha, na qual se manteve sem contactar com o arguido até 18 de agosto, dia em que enviou uma mensagem pelo Instagram ao arguido a perguntar-lhe como é que ele estava, depois de saber que a procurava junto da casa de familiares.

Na sequência da conversa, o arguido prometeu-lhe “que iria mudar e que nunca mais a iria agredir”. A jovem manifestou o desejo de regressar a Portugal e facultou a sua localização ao arguido, que a foi buscar de carro na tarde de 19 de agosto.

Assim que chegou, “o arguido saiu da viatura, dirigiu-se à ofendida muito exaltado, esbracejando e gritando”, seguindo-se mais agressões, após as quais conversaram cerca de hora e meia, na qual o agressor pediu desculpa e convenceu a vítima a regressar a Portugal, prometendo-lhe “que iria mudar radicalmente de comportamento”.

O MP conta que logo após iniciarem a viajem, o arguido agarrou no telemóvel da ofendida e arremessou-o para a via pública. Ato contínuo, parou o automóvel e “espezinhou o aparelho, destruindo-o, deixando a ofendida incontactável”, prosseguindo a viajem com destino ao Seixal, no distrito de Setúbal, onde chegaram ao final do dia 20 de agosto.

Nessa madrugada, devido às dores e às queixas apresentadas pela jovem, fruto das agressões, o arguido levou-a ao Hospital Garcia da Orta (HGO), em Almada. O homem voltou depois para apanhar a jovem e levou-a para uma garagem em Paio Pires, onde esteve trancada até conseguir fugir para a casa da mãe na Arrentela, concelho do Seixal, depois de o arguido se ter esquecido das chaves.

A vítima deu entrada no Serviço de Urgência do HGO, em Almada, às 18:38 de 21 de agosto de 2019.

O advogado da ofendida, Hélder Cristóvão, apresentou um pedido de indemnização cível de 30.000 euros.

O início do julgamento está previsto para as 09:30 de segunda-feira no Tribunal de Almada e deverá ser presencial.

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