Mali vota segunda volta das legislativas no domingo
Os eleitores do Mali são convocados para no domingo participarem na segunda volta das eleições legislativas, para eleger os ocupantes dos lugares restantes da Assembleia Nacional, dois anos após o fim previsto da atual legislatura.
A votação é feita enquanto o país sofre episódios regulares de violência, testemunha um crescente número de casos da covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus, e três semanas depois de uma primeira volta marcada por raptos e destruição de mesas de voto.
Ainda assim, o Governo do Presidente Ibrahim Boubacar Keita, também conhecido por IBK, decidiu manter a data da segunda volta.
“Numa democracia, nada bate a plena legalidade constitucional e o desenvolvimento normal das instituições”, afirmou IBK há dias, num comunicado à nação.
Desde o início da pandemia, o Mali registou mais de 170 casos de infeção pelo novo coronavírus, incluindo 13 mortes.
A campanha eleitoral acabou por sair afetada pela pandemia, uma vez que as autoridades proibiram concentrações com mais de 50 pessoas.
A atual legislatura foi eleita em 2013 e o seu mandato deveria ter terminado no final de 2018, ainda assim, as dificuldades enfrentadas no país levaram à sua prorrogação até maio de 2020.
Numa primeira instância, estas eleições foram adiadas pela greve dos magistrados, sendo depois adiadas regularmente devido à insegurança no país, perpetrada por grupos ‘jihadistas’, violência intercomunitária e o tráfico de droga.
Na primeira ronda foram eleitos 22 dos 147 lugares do parlamento maliano, que na próxima legislatura terá como objetivo a consolidação do acordo de paz de Argel, assinado em 2015 entre grupos armados independentistas e o Governo central maliano.
O acordo prevê uma maior descentralização através de uma reforma que deve passar pela assembleia, algo que tem sido dificultado pela contestação da atual constituição parlamentar, cuja legitimidade é colocada em causa.
A instabilidade que afeta o Mali começou com um golpe de Estado em 2012, quando vários grupos rebeldes e organizações fundamentalistas tomaram o poder do norte do país durante 10 meses.
Os fundamentalistas foram expulsos em 2013 devido a uma intervenção militar internacional liderada pela França, mas extensas áreas do país, sobretudo no norte e no centro, escapam ao controlo estatal e são, na prática, geridas por grupos rebeldes armados.
Na região norte do Mali, a primeira volta, de 29 de março, foi marcada por raptos de chefes de mesa e pelo roubo e distribuição de urnas eleitorais, havendo registo de rusgas de intimidação por parte de ‘jihadistas’ nas zonas rurais de Timbuktu.
Dessa forma, a elevada taxa de participação em algumas regiões do norte -- Kidal contou com mais de 85%, face a uma média nacional de 35,6% - sugere, segundo um diplomata do Sahel citado pela agência France-Presse, “a possibilidade de fraude”.
De acordo com o observador Ibrahima Sangho, a taxa de participação de 12,9% na capital, Bamako, está de acordo com a norma maliana.
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 4.000 pessoas foram mortas em ataques terroristas em 2019 no Mali, Burkina Faso e Níger, tendo o número de pessoas deslocadas aumentado 10 vezes, ficando próximo de um milhão.
Além de uma força conjunta do G5 Sahel - composta por militares de Mali, Burkina Faso, Níger, Chade e Mauritânia -, a região conta também com a operação Barkhane, uma missão das Forças Armadas francesas no Mali, e da Minusma, a missão da ONU no Mali.
Em janeiro, o ministro da Defesa português, João Gomes Cravinho, anunciou o reforço do contingente na Minusma com mais cerca de 70 militares da Força Aérea Portuguesa e uma aeronave C-295, entre maio e outubro.
No final de fevereiro, a União Africana anunciou que está a preparar o destacamento de uma força de 3.000 soldados para o Sahel, de forma a tentar travar a propagação de grupos ‘jihadistas’ e da insegurança na região.