Orgulho em ser português
Sem saúde não existirá por certo uma boa economia, mas sem economia, sem financiamento do Serviço Nacional de Saúde e sem dinheiro para as pessoas comerem não existirá certamente uma boa saúde
Esta semana, um amigo que trabalha no ramo imobiliário, confidenciou-me que recebera um telefonema de um grande grupo francês, à procura de hotéis para comprar no nosso País. Começou até por falar em Fátima e na Madeira. O meu amigo disse-lhes, que embora fosse natural uma futura deflação nos preços, devido à crise económica que se avizinha, por esta altura não existiam ainda grandes oportunidades de negócio que diferissem muito do que estava no mercado anteriormente. Ao que eles lhes responderam, que não vinham com o intuito de aproveitar qualquer promoção e que o preço não era problema. Explicaram-lhe ainda, que a razão se prendia pelo facto de Portugal estar a lidar tão bem com a pandemia, pelo exemplo que lhes chegava de cá, a forma como estávamos a saber controlar o Coronavírus sem histerismos e também a parca mortalidade, fazem-lhes crer que dentro de pouco tempo o nosso país será ainda mais apetecível, quer para o turismo, como para residência, pela maturidade e segurança que vamos transmitindo e que chega a todo o Mundo.
Não é propriamente novidade. Todos os dias vemos notícias de órgãos de comunicação estrangeiros a elogiar o nosso comportamento. Na verdade, à parte de alguns casos esporádicos ( que não merecem relevância ), nós temos dado um grande exemplo do que deve ser o trabalho em comunidade, de entreajuda, de solidariedade e de união. É altura de o reconhecermos em vez de só estarmos cá quando é para criticar. Fechámos quanto tivemos que fechar, tomámos medidas duras mas nunca precisámos de ser punitivos. Isso deve-se a todos e a cada um de nós. Ao senhor da padaria e à menina da peixaria, ao homem do lixo e aos profissionais de saúde, ao agricultor e ao camionista. A tantos outros que executam diariamente o seu trabalho para que nada nos falte, mas também aos milhões que estão por esta hora em casa contra sua vontade em prol de um bem comum. Aos que se mobilizam para ajudar os vizinhos e às empresas que alteraram a sua produção para suprir algumas lacunas que vínhamos registando.
Será agora tempo de entrar numa segunda fase, a saída paulatina de casa dos grupos de menor risco, continuando a obedecer às normas de segurança e de distanciamento social mas voltando ao trabalho, para que a economia possa de alguma forma recuperar aos poucos do embate violento que sofre todos os dias. Os mais velhos e vulneráveis terem que ter paciência e esperar mais um pouco. Essa retoma é tão necessária e fundamental como foi o isolamento no princípio. Sem saúde não existirá por certo uma boa economia mas sem economia, sem financiamento do Serviço Nacional de Saúde e sem dinheiro para as pessoas comerem não existirá certamente uma boa saúde. Passos seguros mas firmes rumo à normalidade. Sim, os verdadeiros efeitos desta crise provavelmente ainda não se estarão a sentir, muita gente sofrerá na pele, mas ao contrário de outras nenhum de nós teve culpa do que se passou, e calhará a cada um uma quota parte de sacrifício, para conseguirmos reverter a situação e voltarmos ao crescimento.
Da mesma forma que o grupo francês acredita que Portugal será o futuro, eu também. Acho sinceramente que sairemos daqui mais fortes como pessoas, mais unidos enquanto comunidade, mas também como um País que não é só feito de boas praias e temperatura amena, que não sabe só formar grandes jogadores de futebol mas mulheres e homens de valor inquestionável que dão todos os dias uma lição de civismo e de capacidade de se reinventarem. Que é feito de pessoas de raça, criativas e lutadoras mas que ao contrário de outros não se esquecem dos valores da amizade e da solidariedade, que valorizam os mais velhos e que não os catalogam como cidadãos de segunda. Que nos apertámos e contraímos porque não queremos ter que escolher entre este e aquele, não queremos simplesmente perder ninguém.
O caminho que se afigura não é fácil nem parece especialmente colorido mas eu acredito muito em nós. Nos invisíveis e humildes que percorrem as nossas calçadas , os que trabalham para dar uma vida melhor aos filhos, os que se esforçam para ajudar desinteressadamente. Estamos cheios desses heróis que não procuram fama mas que são impelidos por uma vontade férrea de contribuir para que tudo melhore. Napoleão Bonaparte disse um dia que os portugueses eram mais sábios do que pareciam. Há quem lá fora (às vezes com a nossa ajuda) queira confundir a nossa humildade com ingenuidade e nos tente pisar. Mas nós nunca tivemos a vida fácil, sempre nos habituámos a contrariar as adversidades e foi sempre nessas alturas que o nosso nobre Povo e a nossa Nação valente deram uma resposta cabal do que é ser português. Voltaremos a fazê-lo. Estejam seguros disso.