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As diferenças na quarentena

Lê-se muito nestes últimos tempos. Lê-se muito sobre muita coisa. Lê-se acerca do desespero de empresários, sejam grandes, médios ou pequenos. Lê-se acerca das ajudas alimentares, e bem, que acontece um pouco por toda parte. Lê-se acerca do quão bom é estar em casa e a receber de igual forma, acerca das idas ao supermercado, lê-se acerca das viagens que ficaram pendentes para muitos... Vê-se uma data de receitas serem confeccionadas, tiram-se fotos a mesas bem recheadas...mesas bem recheadas. Não é assim para todos. Há apoios, e bem, para muitos, mas há quem não tenha qualquer rendimento. Nada. Não se lê acerca disso. Não há quem fale. A vergonha continua a ser um flagelo que, por arrasto, traz outros. Agregados familiares. Famílias monoparentais. Não se lê acerca disso. Há quem vá dormir com fome, há quem tenha contas já acumuladas, há quem há muito já tenha passado a fase da corda ao pescoço. Moratórias negadas, empregos que serviam para colmatar estas obrigações. Há quem tenha ficado sem trabalho outrora e actualmente já não usufrui de qualquer rendimento. Gente que estava dependente de trabalhos que iam aparecendo e que dava para pagar o que tem de ser pago. Sou só mais uma assim. Mais uma no meio de tantas outras. Só mais uma mãe. A idade é realmente um peso. Nova para trabalhar e velha para empregar. Nem os sonhos sobrevivem. Voltar a estudar era um deles. Os bancos levam tudo e o tudo é nada para eles. Quando o saldo é negativo, o frigorífico está meio vazio e as contas acumulam, é o desespero e o choro que mantém acordada meia população. Os artistas reclamam quando fazem concertos a ganhar milhares, os empresários pedem clemência quando têm lucros abismais, mas é o outro lado que ninguém vê, que ninguém fala e ninguém sonha que existe.

CF

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