Escassez de gasolina domina novos protestos na Venezuela
A crescente escassez de gasolina na Venezuela motivou, na quarta-feira, protestos em pelo menos três dos 24 estados do país, com a população a exigir soluções ao Governo.
No estado de Falcón (centro-norte), elementos da Guarda Nacional Bolivariana lançaram gás lacrimogéneo, em Churuguara, para dispersar centenas de produtores, agricultores e residentes concentrados junto de uma bomba de gasolina local para protestar pela falta de combustível.
Os agricultores queixaram-se que estão a perder as colheitas, e os produtores de gado afirmaram que não conseguem distribuir carne nem queijo.
No estado de Barinas (sudoeste), centenas de motociclistas, motoristas e produtores “tomaram” uma estação de serviço e bloquearam a circulação numa estrada para exigir o abastecimento de combustível, cuja escassez impede a distribuição de alimentos na região.
No estado de Anzoátegui (nordeste), em Soledad, dezenas de pessoas protestaram pela falta de gasolina, de alimentos, de gás doméstico e de água potável.
Os manifestantes bloquearam a ponte Angostura, que une os estados de Anzoátegui e de Bolívar e explicaram aos jornalistas que romperam a quarentena preventiva da covid-19, por não terem chegado as caixas com alimentos a preços subsidiados, distribuídas pelo Estado venezuelano.
Nas últimas semanas, as queixas da população sobre a dificuldade de conseguir gasolina aumentaram, situação que já se verificava no interior do país, mas está agora a afectar também Caracas, onde foi implementado, nos últimos dias, um programa de racionamento que prevê o abastecimento de sectores considerados prioritários pelas autoridades.
O líder opositor Juan Guaidó responsabilizou o Governo do Presidente Nicolás Maduro pela escassez de gasolina, num país que conta com as maiores reservas de petróleo do mundo.
“A Venezuela era capaz de autoabastecer-se de combustível, mas hoje, no meio de uma pandemia, há filas quilométricas para a gasolina em todo o país”, escreveu na conta na rede social Twitter.
Guaidó insistiu que os venezuelanos não devem habituar-se à escassez, que é necessário criar “um governo de emergência nacional” para acabar com a crise no país e disse ter alternativas para “materializar como for necessário” este executivo.
Entretanto, o presidente da empresa de análise de dados e sondagem Datanálisis, Luís Vicente León, advertiu que a oposição venezuelana comete um erro se responsabilizar apenas o Executivo pela falta de combustível porque o que a população procura é uma solução para o problema.
“A pandemia permite que Maduro mostre quem controla e exerce o poder, mais além do debate político. O desafio da oposição é acompanhar a população e apoiar possíveis soluções para os problemas. Se ficar colada na batalha política, corre o risco de se tornar irrelevante”, disse aos jornalistas.
A nível global, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 133 mil mortos e infectou mais de dois milhões de pessoas em 193 países e territórios. Mais de 436 mil doentes foram considerados curados.
Para combater a pandemia, os governos mandaram para casa quatro mil milhões de pessoas (mais de metade da população do planeta), encerraram o comércio não essencial e reduziram drasticamente o tráfego aéreo, paralisando sectores inteiros da economia mundial.