Morreu o escritor brasileiro Luiz Alfredo Garcia-Roza, autor de “O Silêncio da Chuva”
O escritor brasileiro Luiz Alfredo Garcia-Roza morreu hoje, aos 84 anos, no Rio de Janeiro, confirmou a Agência Riff, representante do autor que estava internado desde o ano passado, após ter sofrido um acidente vascular cerebral.
“Hoje nos despedimos do escritor Luiz Alfredo Garcia-Roza, autor de 11 romances policiais que imortalizaram o célebre detetive Espinosa, personagem recorrente em sua obra de ficção. Elogiado pela crítica, vencedor do Jabuti, o autor de ‘Achados e Perdidos’, ‘Espinosa sem saída’ e ‘Um lugar perigoso’ estava em coma desde 2019 e era casado, há mais de quatro décadas, com a também escritora Livia Garcia-Roza”, escreveu a Agência Riff, nas redes sociais.
Garcia-Roza era conhecido pelos seus livros policiais, com a personagem do detetive Espinosa, em destaque em grande parte da sua obra, um detetive amante das letras, que visitava alfarrabistas e refletia sobre a leitura e os livros que escolhia.
Antes da entrada na literatura, aos 60 anos de idade, Luiz Alfredo Garcia-Roza teve uma carreira como professor universitário, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), como especialista em psicanálise, tendo publicado o seu primeiro romance, “O Silêncio da Chuva”, em 1996, onde apareceu pela primeira vez o inspetor Espinosa.
Um ano depois, essa mesma obra, editada pela Companhia das Letras, rendeu-lhe um dos principais prémios literários do Brasil, o Jabuti, na categoria romance.
O seu livro mais recente foi a “A Última Mulher”, publicado no ano passado, depois de o autor já estar no hospital, e que contou também com a personagem do detetive Espinosa.
Em Portugal, o autor tem três livros editados: “O Silêncio da Chuva”, “Achados e Perdidos” e “Uma Janela em Copacabana”, todos editados pela Gótica, entre 2002 e 2003.
A sua obra chegou ao cinema com a adaptação de “Achados e Perdidos”, de José Joffily, em 2006, seguindo-se “Berenice Procura”, que foi um dos destaques da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo de 2017.
Outra adaptação ao cinema, “Silêncio da Chuva”, com direção de Daniel Filho e Lázaro Ramos como detetive Espinoza, está em fase de pós-produção.
Nas redes sociais, a sua mulher, Lívia Garcia-Roza, também ela escritora, despediu-se do autor com um: “Adeus, meu amor”.
Outras personalidades da literatura juntaram-se na despedida a Garcia-Roza, como o editor da Companhia das Letras, Luiz Schwarcz, que frisou que o Brasil “perde hoje um escritor exemplar e um poço de bondade”.
“Um dia depois da morte de Rubem Fonseca [escritor brasileiro, Prémio Camões 2003], um de seus bons amigos também nos deixa. Acaba de falecer Luiz Alfredo Garcia-Roza, que, se não me falha a memória, deve a Rubem sua entrada na carreira de ficcionista. (...) [Ele] Adorava o seu novo ofício de escritor de romances policiais, para onde canalizava toda a generosidade que aprendera com os grandes filósofos”, indicou Schwarcz, citado pela imprensa local.
“O Brasil perde hoje um grande professor, um escritor exemplar, e um poço de bondade. Seu sofrimento com o acidente vascular cerebral que sofreu há meses foi muito maior do que merecia”, acrescentou Schwarcz.
A autora brasileira Tatiana Salem Levy, autora de “A Chave da Casa” e “Curupira Pirapora”, lembrou a importância que Luiz Alfredo Garcia-Roza teve na sua vida, quer como professor, quer como escritor.
“Lá em casa, professor sempre foi sagrado. (...) Antes de publicar seu primeiro romance, ele já era importante lá em casa. Lembro da primeira vez que o vi, falando de psicanálise e literatura policial na UFRJ, isso deve ter sido em 1997. Depois, acabámos nos conhecendo, nos cruzando algumas vezes no circuito literário - ele sempre doce, assim como ela, a Livia Garcia-Roza”, escreveu no Facebook a autora brasileira.
“Há mais de um ano, venho acompanhando o diário que Lívia faz aqui no Facebook, desde que o Luiz foi internado. Que venho sofrendo com o presente e me alegrando com as lembranças. Hoje, ele partiu. Semana tristíssima para a cultura latino-americana. Moraes Moreira, Rubem Fonseca, Sepúlveda e Garcia-Roza”, concluiu Tatiana Salem Levy.
O jornalista, escritor e editor português Francisco José Viegas referiu-se a Garcia-Roza como “gentil, sempre amigo, o grande criador do policial brasileiro”.
Já a autora, jornalista, apresentadora e presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa, a brasileira Letícia Dornelles, lamentou nas redes sociais a morte de Gacia-Roza, afirmando que “Copacabana está triste, a Cultura está de luto”.