Histórico de catástrofes pode gerar resiliência nos moçambicanos
A psicóloga Dália Matsinhe considerou que as constantes catástrofes que se abatem sobre a sociedade moçambicana podem gerar uma “resiliência” e até “naturalização” face ao novo coronavírus, mas alertou para uma atitude “paralisante”, devido aos traumas do passado.
“No caso de Moçambique, devido a diversas situações já passadas, podemos dizer que poderemos ser mais resilientes, o que é positivo e negativo, ao mesmo tempo”, afirmou Dália Matsinhe, em declarações à Lusa.
A dimensão positiva pode resultar da maior aptidão dos moçambicanos para lançar mão de recursos psicológicos internos para lidar com os efeitos da covid-19 e no optimismo em relação à superação da crise.
O lado negativo gera uma atitude de banalização do risco que o coronavírus representa e leva à negligência da prevenção, colocando muita gente em perigo.
“O exemplo disso são os casos de pessoas que se recusam terminantemente a distanciar-se socialmente, achando-se imunes a essa possibilidade”, explicou Dália Matsinhe.
Defendendo que nenhum ‘stress’ ou trauma é igual ao anterior, a psicóloga notou que algumas nuances e experiência de situações difíceis podem fazer com que os moçambicanos lidem psicologicamente melhor com o espetro da covid-19.
Mas os danos psicológicos do passado têm potencial para conduzir a uma paralisação psicológica, devido ao regresso de sentimentos negativos anteriormente vividos.
Sobre o efeito do isolamento e do confinamento social, a psicóloga moçambicana apontou os riscos de ‘stress’, desconforto, desequilíbrio emocional, neuroses e até suicídio, como possíveis malefícios.
“Note-se que nesta era digital, a preocupação maior será com pessoas que não têm esta capacidade de acesso a meios eletrónicos, por baixo rendimento ou por idade”, explicou.
Até porque, acrescentou, isolamento social não significa distanciamento emocional, para quem consegue aceder à família através de Facebook, Whatsapp e Skype.
Para Dália Matsinhe, os efeitos psicológicos da pandemia são transversais a todos os países e incluem depressão, ataques de pânico, ansiedade e ‘stress’.
Além disso, o medo constante de ser infetado, pode levar a comportamentos compulsivos de higienização, depressão, ataques de pânico e abuso de substâncias.
Em caso de pessoas com tendências mais desviantes, podem ocorrer suicídios, roubos, negligência, violência doméstica, abuso infantil e homicídios.
Dália Matsinhe destacou a prevenção como o melhor meio para evitar uma catástrofe no país, lembrando as fragilidades do Sistema Nacional de Saúde de Moçambique, mas elogiou as campanhas de sensibilização que o Governo tem realizado sobre o perigo da covid-19.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já provocou mais de 120 mil mortos e infetou mais de 1,9 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Dos casos de infeção, cerca de 402 mil são considerados curados.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
Os Estados Unidos da América são o país que regista o maior número de mortes, contabilizando 23.649 até hoje, e aquele que tem mais infetados, com 582 mil casos confirmados.
O número de mortes provocadas pela covid-19 em África ultrapassou hoje as 800 com mais de 15 mil casos registados em 52 países, de acordo com a mais recente atualização dos dados da pandemia no continente.