Abastecimento de gasolina limitado a sectores prioritários
A crescente escassez de gasolina que afetava o interior da Venezuela faz-se agora sentir em Caracas, onde as autoridades implementaram nos últimos dias o programa “Pico e Placa” para abastecer apenas setores considerados prioritários pelas autoridades.
O programa “Pico e Placa”, aplicado pela Zona Operacional de Defesa Integral (ZODI) da região capital, sob controlo militar, prevê que apenas 24 das 250 estações de serviço que existem em Caracas, abasteçam, quatro delas exclusivamente a pessoal do setor da saúde.
São ainda prioritários, os motoristas de organismos estatais, de segurança, do transporte de alimentos, dos serviços públicos de água, gás e eletricidade, de recolha de lixo, das telecomunicações, do transporte público de passageiros e os meios de comunicação social.
Cada estação de serviço tem um cartaz a indicar quais os setores e dia em que os profissionais podem ser abastecidos, segundo o último dígito do número da matrícula.
Os motoristas fazem extensas filas junto das estações de serviço, segundo o setor a que pertencem e nos dias correspondentes, sob o controlo efetivos da Guarda Nacional Bolivariana (polícia militar) e de outros organismos de segurança que ao verem os jornalistas de imediato advertem que não podem fazer nenhuma gravação no local.
“Sem combustível o país paralisa”, destaca o último relatório do Observatório Venezuelano de Conflitualidade Social (OCS), que explica que “desde o começo de 2020 a escassez de gasolina tem tido maior visibilidade no contexto nacional, sendo Táchira, Mérida e Zúlia, alguns dos Estados mais afetados”.
Segundo o OCS “a população tem sofrido o impacto de pagar combustíveis mais caros, respeitar um racionamento pelo número de matrícula, pernoitar e fazer filas intermináveis para se abastecer”.
“As operações comerciais de transporte de alimentos e mercadorias, e os serviços são também afetados”, explica o OCS precisando que no passado mês de março ocorreram pelo menos 34 protestos em 17 dos 24 Estados da Venezuela, para exigir combustível.
“Em todo o país foram documentadas denúncias de longas filas, extorsões e abuso de poder de parte das autoridades. As discussões realizadas entre as diferentes forças de segurança, que vigiam as estações de serviço durante a contingência da covid-19, e os cidadãos evidenciam a seriedade da situação”, explica.
Segundo o OCS, têm sido registados casos em que foi também restringido o abastecimento de combustível a quase todas as pessoas, inclusive a médicos e enfermeiros.
“Estas irregularidades aumentaram o absentismo nos hospitais e paralisaram o transporte público, fazendo surgir as chamadas ‘perreras’ (transporte informal), sem controlo sanitário nem segurança pessoal, com o setor produtivo a anunciar perdas”, explica.
Segundo o OCS durante os grandes apagões elétricos de 2019, os comerciantes e famílias viram-se “obrigados a adquirir geradores elétricos que funcionam a gasolina e que hoje são inúteis perante a crise dos serviços públicos”.