Merkel volta em força à política doméstica, mas com fim à vista
A Alemanha é o quarto país no mundo com mais casos de covid-19 diagnosticados, contabilizando cerca de 120 mil
A popularidade da chanceler alemã e do seu partido, a União Democrata-Cristã (CDU), têm subido, resultado de como Angela Merkel tem lidado com a pandemia da covid-19, mas não a levará a recandidatar-se em 2021, consideram vários politólogos.
No final de Outubro de 2018, depois de resultados desastrosos nas eleições regionais de Hesse, a chanceler alemã, no cargo desde 2005, anunciou que não se recandidataria à liderança nem do partido nem do Governo em 2021.
Nessa altura, Merkel deixou de comentar a política interna mas a crise provocada pelo novo coronavírus volta a dar destaque à chefe do executivo.
“Foi surpreendente para a maioria dos observadores da vida política alemã a forma como a coligação que governa, preocupada principalmente com conflitos internos desde 2018, reagiu de forma rápida e eficiente a este desafio”, sublinhou em declarações à agência Lusa o politólogo e sociólogo Oscar Gabriel.
Para o professor emérito da Universidade de Estugarda, Merkel, que tem feito nas ultimas semanas várias comunicações ao país, ora através de mensagens gravadas e emitidas na televisão, ora em ‘podcast’, teve “um retorno notável à política desde o início da crise”.
Para este politólogo, a primeira aparição de Merkel na televisão foi mesmo a mais forte desde a crise dos refugiados, em 2015. Ainda assim, antevê que Merkel não deverá voltar atrás com a sua palavra de não se recandidatar.
“Não acho que ela concorra novamente à chancelaria em 2021. As suas declarações sobre esse assunto foram absolutamente claras e ela não recua nas suas decisões”, sustentou nas declarações à Lusa.
Também o politólogo Ulrich von Alemann reconhece que Angela Merkel voltou a estar positivamente presente nos assuntos internos e internacionais, mas considera que isso não vai fazer diferença na resolução que tomou.
“Ela é séria, as medidas tomadas pela Alemanha são equilibradas e bem-sucedidas, os alemães sentem-se seguros sob a sua orientação. No entanto, ela tomou a decisão de não se candidatar novamente e vai mantê-la”, afirmou à Lusa.
De acordo com uma sondagem levada a cabo pela Infratest Dimap para a ARD, há cerca de uma semana, quase três quartos dos alemães aptos a votar (72%) estão satisfeitas com a forma como o Governo alemão tem lidado com a crise, e apenas 30% criticam as medidas de contenção.
E se há um mês, os três partidos que formam a “grande coligação”, CDU, Partido Social Democrata (SPD) e União Social-Cristã (CSU) tinham avaliação negativa, agora o executivo alcançou o maior índice de popularidade desde que este estudo começou a ser feito (em 1997).
Depois de Merkel, é Markus Söder, líder da CSU e do Governo da Baviera, o maior e mais afectado estado federado da Alemanha, quem aparece como político mais popular.
“Söder faz um excelente trabalho, pelo menos em relações públicas. Como é líder da CSU não pode concorrer à presidência da CDU. Neste caso, o primeiro-ministro da Renânia do Norte-Vestefália, Armnin Laschet, parece ser o favorito”, avança o professor da Universidade de Dusseldorf Ulrich von Alemann.
Para Oscar Gabriel ainda é muito difícil avaliar o futuro político do país pós pandemia, mas reconhece que tanto Söder como Jens Spahn, actual ministro da saúde, recolhem um grande apoio.
“Söder pertence ao grupo de políticos que estão nesta altura muito presentes no dia-a-dia a gerir a crise. Mas isso também se aplica a Spahn e a Laschet que declararam concorrer em conjunto pela liderança do partido”, frisou o analista político.
O congresso para escolher um novo líder da CDU, que irá suceder a Annegret Kramp-karrenbauer, estava marcado para o dia 25 de Abril, mas foi adiado devido à pandemia.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infectou mais de 1,7 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 100 mil. A Alemanha é o quarto país no mundo com mais casos diagnosticados, contabilizando cerca de 120 mil.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.