Funcionários de hotel em Cabo Verde revoltados após 25 dias de quarentena
Os funcionários do hotel onde já foram registados dois casos de coronavírus em Cabo Verde, e que estão de quarentena há 25 dias, estão revoltados porque dizem foram informados que iam sair hoje, mas não chegou a acontecer.
“O médico veio cá na sexta-feira, realizou consultas as todos e já que não temos sintomas, foi-nos garantido que íamos para casa hoje. Mas quando íamos sair, informaram-nos que vamos ter de ficar mais uma semana aqui porque vão nos fazer teste”, contou à Lusa um dos 210 funcionários do hotel Riu Karamboa, na ilha da Boavista.
Os funcionários estão de quarentena na unidade hoteleira desde que foi anunciado o primeiro caso de covid-19 na ilha da Boa Vista, o primeiro também do país, em 19 de março, um cidadão inglês de 62 anos, que acabou por falecer e enterrado na ilha no dia 24 de março.
Os trabalhadores tinham esperança de poder ir para casa a 04 de abril, após concluir os 14 dias de quarentena, mas esse período foi renovado depois surgimento de um segundo caso na mesma unidade hoteleira, um funcionário cabo-verdiano, que foi anunciado em 28 de março.
Duas semanas depois, não voltou a ser anunciado qualquer caso positivo na ilha, e desde o primeiro que os funcionários pedem a realização de testes para despiste do novo coronavírus e assim poderem ir para casa.
Em 30 de março, o ministro da Saúde, Arlindo do Rosário, garantiu que os trabalhadores deste hotel, e de outro cujos funcionários já foram para casa, iriam ser submetidos a testes na semana que acabou de terminar, o que não chegou a acontecer, nem para um nem para outro.
Os funcionários do Riu Karamboa, todos cabo-verdianos, foram informados que iam para casa hoje, no dia da Páscoa, mas quando iam sair foi-lhes dito que terão que ficar mais uma semana confinados ao hotel e que serão submetidos a testes, mas só na próxima semana.
Revoltado, o trabalhador sublinhou que estão há 25 dias nos quartos de hotel e que, depois da esperança, estão agora todos desanimados. “Já estamos com duas quarentenas sem nenhum sintoma”, mostrou, dizendo que não entende a “estratégia” por detrás de todas estas informações.
Outra funcionária disse à Lusa que tinham sido informados que iriam sair no sábado, tendo depois passado para hoje, domingo, mas que de manhã, quando já tinham arrumados todas as suas casas, ficaram a saber que tal não iriam acontecer.
“Estamos tristes, magoados e dececionados com as autoridades cabo-verdianas”, atirou a trabalhadora, adiantando que, depois de todos permaneceram à porta do hotel, foram informados que iriam ser feito recolha de sangue para irem saindo aos poucos.
“Mas acho que é mais uma forma de nos enganar”, protestou mais uma vez a mesma fonte, recordando todos os passos e os 25 dias passados em confinamento num quarto de hotel.
Abordado sobre o assunto, o diretor nacional de Saúde de Cabo Verde, Artur Correia, disse à Lusa que os factos estão a ser apurados e que serão anunciados na habitual conferência de imprensa sobre o coronavírus no país, marcado para as 17:00 locais (19:00 em Lisboa).
Além destes dois, o país regista ainda mais seis casos positivos da covid-19, sendo outros dois na Boa Vista, três na cidade da Praia (Santiago) e outro em São Vicente.
O país cumpre hoje 15 dias, de 20 previstos, de estado de emergência para conter a pandemia provocada pelo novo coronavírus, com a população obrigada ao dever geral de recolhimento, com limitações aos movimentos, empresas não essenciais fechadas e todas as ligações interilhas e para o exterior suspensas.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já provocou a morte de cerca de 110 mil pessoas e infetou quase 1,8 milhões em 193 países e territórios.
Dos casos de infeção, mais de 411 mil são considerados curados.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.