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Médicos Sem Fronteiras adaptam missões devido às restrições na mobilidade

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A covid-19 obrigou os Médicos Sem Fronteiras (MSF) a adaptar as suas missões em países onde as populações que apoiam são mais vulneráveis, devido às restrições na mobilidade de pessoas e bens, segundo o representante da organização em Portugal.

Habituados a cenários como a Síria ou o Sudão e depois de combateram doenças como o Ébola, os profissionais de saúde dos MSF classificam a covid-19 de uma “complexidade acrescida” para a ajuda humanitária.

João Antunes, a trabalhar desde 2005 nesta organização humanitária internacional que leva cuidados de saúde a pessoas afetadas por graves crises humanitárias, já participou em 18 missões de resposta de emergência em países como a Nigéria, Sudão, Angola, Guiné-Bissau ou Serra Leoa.

A propósito da pandemia da covid-19, que desde o início mobilizou os MSF para apoiar as populações atingidas ou ajudá-las a estarem preparadas para a doença, João Antunes explicou à agência Lusa que o novo coronavírus obrigou a organização a adaptar a sua ajuda.

Isso porque, normalmente, os MSF já atuam junto das populações mais necessitadas e, por isso, mais vulneráveis, tendo realizado em 2018 cerca de 11 milhões de consultas, 300 mil operações e 700 mil internamentos, entre outros atos.

Mas as restrições agora impostas exigem uma adaptação, nomeadamente porque os profissionais estrangeiros têm menos mobilidade.

“Somos cerca de 40 mil trabalhadores humanitários em todo o mundo, dos quais 10 por cento de pessoal estrangeiro. Esse pessoal tem normalmente tarefas de coordenação de equipas, pois traz uma linha adicional de experiência e formação que não é fácil nos países”, disse.

“Parte da equipa vem da Europa, onde atualmente ainda se regista o epicentro da epidemia. Trazer um espanhol ou italiano não é fácil. É uma limitação”, prosseguiu.

Nesta pandemia, existem fatores de adicional dificuldade para as populações se prevenirem, não tendo estas forma de realizarem as medidas preconizadas pelas organizações mundiais de saúde, básicas para muitos países, mas praticamente impossíveis para uma grande parte do mundo, onde normalmente os MSF atuam.

“Não temos uma profilaxia, um tratamento, nem uma vacina. O que promovemos são regras a que nos habituámos, por exemplo em Portugal, como lavar as mãos, cuidado a tossir, isolamento social. Ora, nestes países estas medidas são muito difíceis de aplicar”, disse.

E recordou que em algumas cidades africanas a concentração de pessoas é tão grande que o isolamento é quase impossível, o mesmo acontecendo com a água, cujo acesso é tão difícil que não permite cuidados de higiene como os preconizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

O mesmo acontece em campos de refugiados, que se deparam com todas estas dificuldades e ainda outras.

Por outro lado, ao nível clínico, a resposta necessária nesta doença também não é fácil, nomeadamente nos casos mais graves que exigem internamento em unidades de cuidado intensivo, com recurso a ventiladores.

Os elementos dos MSF não deixam, por isso, de insistir na promoção da saúde, explicando às pessoas o que é a doença, como se combate e qual a melhor maneira de se prevenir.

E o que têm feito é “detetar os casos suspeitos, criar a capacidade de os isolar para que não continuem a contagiar. Se houver a necessidade, começar a fazer o tratamento e ao mesmo tempo rastrear os contactos do infetado”.

Um trabalho que começou assim que a pandemia foi conhecida, mas em ações que já decorriam, das quais 60% são em África.

“Não podemos estar à espera. Sabendo o cenário e a probabilidade de os casos não ficarem por aqui, temos de estar preparados, deixando o nosso marco: vigilância epidemiológica, prevenção, tratamento de casos, isolamento, rastreio”.

Os MSF colaboram ainda com a OMS e os ministérios da Saúde dos países onde atuam, oferecendo a sua capacidade técnica, principalmente ao nível do estabelecimento do isolamento.

Um trabalho que se depara com as “habituais dificuldades no terreno”, características de uma missão de emergência.

“É sempre uma corrida contra o relógio. Objetivo -- reduzir a mortalidade”, declarou.

Neste combate à covid-19 os profissionais deparam-se ainda com a esperada escassez de bens e itens médicos, como medicamentos e material de proteção, que está a registar-se um pouco por todo o mundo afetado pela pandemia.

Questionado sobre o grau de ameaça que a covid-19 representa, João Antunes não hesita em classificá-la como “um inimigo”.

“É um inimigo, uma pandemia, com epicentro na Ásia, China, o qual temos de aceitar que nos apanhou de surpresa. E a sobrecarga dos sistemas de saúde que está a provocar é uma emergência que já atingiu países como Itália, Espanha e França”, frisou.

João Antunes acredita que “uma resposta integrada e coerente no tempo tem sempre um final feliz”.

Os MSF trabalham atualmente em 500 projetos de emergência que decorrem em 72 países.

Com uma representação permanente em Portugal desde fevereiro de 2019, os MSF recrutam uma média de 10 profissionais portugueses por ano.

Em 2019, os portugueses participaram em mais de 40 saídas para o terreno, em várias partes do mundo.

As missões que envolvem mais recursos dos MSF são as localizadas na República Democrática do Congo, Sudão do Sul, Iémen, República Centro-Africana e Síria.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já provocou a morte a mais de 100 mil pessoas e infetou mais de 1,6 milhões em 193 países e territórios.

Dos casos de infeção, mais de 335 mil são considerados curados.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

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