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Críticas à gestão governamental da crise sobem de tom em Espanha

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As críticas à gestão da crise da covid-19 sobem de tom em Espanha com o Governo a perder o consenso político inicial na luta contra a pandemia no segundo país no mundo com mais mortes provocadas pela doença.

O apoio que o executivo teve quando pediu o prolongamento por duas semanas do “estado de emergência” pela primeira vez, a partir de 29 de março, apenas com a abstenção de pequenos partidos regionais nacionalistas e independentistas, foi agora substituído pelo voto contra de duas formações, a do Vox (extrema-direita) e a CUP (Candidatura de Unidade Popular, extrema-esquerda antissistema e independentista da Catalunha).

“Num país democrático como Espanha o grande apoio ao ‘estado de emergência’ não pode significar que não haja críticas”, defendeu em declarações à agência Lusa o professor de Comunicação e Política Internacional na Universidade Europeia de Madrid, José Maria Peredo Pombo, acrescentando tratar-se da “normalidade dentro de um Estado democrático”.

O discurso quase triunfalista no combate ao novo coronavírus feito pelo primeiro-ministro socialista, Pedro Sánchez, no parlamento na quinta-feira, também não enquadra com a perceção que as pessoas têm sobre a forma como a crise está a ser conduzida.

“O Governo nalguns casos foi ultrapassado e deu mostras de uma debilidade que a oposição não pode deixar de denunciar, tanto mais que estamos com um nível de vítimas muito elevado”, afirmou Peredo Pombo.

Espanha é o segundo país no mundo em número de mortes (15.843) e o terceiro em casos positivos detetados (157.022) desde o início da pandemia.

As autoridades sanitárias estão convencidas de que o pico da pandemia já foi superado, mas alertam para a necessidade de consolidar nos próximos dias/semanas a tendência detetada.

Segundo uma sondagem publicada na segunda-feira passada pelo jornal ABC (direita, crítico do Governo), o apoio dos espanhóis à forma como o executivo está a lutar contra a covid-19 baixou de 35%, três semanas antes, para 28% nesse dia.

A maior formação da oposição, o PP (Partido Popular, direita), voltou a apoiar na quinta-feira o prolongamento do “estado de emergência”, mas fez críticas violentas à forma como Pedro Sánchez tem conduzido a crise provocada pela covid-19.

O politólogo Pablo Simón também concorda que “a situação é anómala, mas que isso não significa que não haja debate no parlamento”.

Num período em que o Governo tem poderes excecionais a oposição “está a aproveitar a oportunidade que lhe dá o parlamento para se fazer ouvir”, afirmou Pablo Simon.

O politólogo recordou a grande concorrência entre o PP e o Vox para ganhar o apoio dos votantes de direita num país muito descentralizado em que estes partidos, principalmente o primeiro, também têm responsabilidades importantes em várias comunidades autónomas.

No discurso inicial no debate parlamentar desta quinta-feira, quando foi aprovado o prolongamento do “estado de emergência” a partir deste domingo até 25 de abril, o chefe do Governo socialista começou por pedir “unidade e lealdade” de todos os quadrantes políticos na luta contra a covid-19.

Pedro Sánchez incentivou mesmo que se seguisse o exemplo de Portugal, dizendo que o presidente do principal partido da oposição, Rui Rio, do PSD, fez um “discurso emotivo” a desejar “boa sorte” ao Governo do PS e a oferecer a sua colaboração na luta nacional contra a pandemia.

O líder do PP, Pablo Casado, respondeu que “os espanhóis mereciam um Governo que não lhes minta” e considerou que a “autoridade moral” de Sánchez para pedir “unidade e lealdade” era “nula”.

Casado atacou a gestão feita pelo executivo da crise do coronavírus e pediu-lhe para “dizer a verdade” sobre a situação real da doença no país, que declarasse luto nacional e que garantisse o envio de material de proteção a todos os trabalhadores nos serviços de saúde.

“Não há nada de novo. A direita já antes estava contra a política de um Governo de esquerda minoritário, que receiam que tome medidas sociais comunistas que fiquem para além do período de crise”, explicou o professor de Meios de Comunicação e Política da Universidade de Navarra Carlos Barrera.

O Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) conseguiu formar um Governo minoritário em janeiro último, em que está coligado com o Unidas Podemos (extrema-esquerda) e que contou com a abstenção imprescindível de pequenas formações regionais nacionalistas e independentistas.

“Há muita retórica política. O importante é que há apoio para a continuação do estado de emergência, estando todos a posicionar-se para a grande batalha futura sobre o modelo económico” para o país, afirmou Carlos Barrera.

O Governo espanhol tem sido muito criticado pela falta de material sanitário e por ter tomado decisões como a compra de testes rápidos impróprios que teve de devolver, depois de ter assumido a direção dos serviços de saúde na maior parte das áreas que normalmente são da competência das 17 comunidades autónomas em que o país está dividido.

“Como as competências em matéria de saúde estão descentralizadas houve momentos de indecisão na aplicação de várias medidas”, explicou o catedrático.

O executivo também foi obrigado, no início desta semana, a alterar o modelo de videoconferências de imprensa sobre a crise da covid-19, muito criticado pelas associações de jornalistas, passando a permitir perguntas em direto em vez do envio de questões escritas.

Os representantes dos jornalistas tinham apresentado anteriormente o manifesto “A liberdade de perguntar”, aplaudidos por alguns partidos, nomeadamente de direita, no qual reivindicavam videoconferências de imprensa livres, com perguntas feitas em direto e sem controlo prévio da secretaria de Estado da Comunicação espanhola.

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