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Madeira

“O coronavírus apenas mostrou com mais clareza que somos frágeis e vulneráveis”

Na cerimónia da paixão do senhor, D. Nuno Brás recorda que retirar Deus das nossas vidas “em nada ajuda a diminuir o sofrimento e a dor”

Foto Arquivo
Foto Arquivo

É perante uma catedral vazia que o Bispo do Funchal celebra hoje a Paixão do Senhor. A cerimónia, à porta fechada, devido ao isolamento social imposto pela pandemia Covid-19 chega até aos fiéis através da RTP-Madeira, do Posto Emissor do Funchal e do Facebook da Diocese com uma mensagem de reflexão face ao momento de angústia vivido por todos.

D. Nuno Brás diz que a coroa de espinhos que os soldados romanos teceram e colocaram na cabeça de Jesus tem assumido, nos nossos dias, uma “concretização muito clara, neste vírus em forma de coroa, que tem espalhado sofrimento e morte pelo mundo inteiro”.

Muitos são aqueles que se interrogam “como pode existir um Deus bom que parece ficar silencioso diante do sofrimento de tantos?”. Face à interrogação “justa e cheia de sentido”, o Bispo recorda que retirar Deus das nossas vidas “em nada ajuda a diminuir o sofrimento e a dor” que existe e é bem grande.

Mas uma coisa é certa: “não nos basta confiar simplesmente no destino ou nas forças adversas e cegas da natureza”, pois seria o mesmo que “desesperarmos da possibilidade de uma salvação ou de uma justiça acima do sofrimento e do mal”. E adverte que sem Deus, “não temos outra solução que não a de nos rendermos ao sofrimento e ao mal”.

Para D. Nuno Brás, em vez de nos interrogarmos acerca do mal em geral e de insistirmos na questão ‘porque é que Deus tolera o mal no mundo?’ era importante questionar “se eu penso e faço o mal, porque é que Deus ainda me tolera?”

O Bispo do Funchal recorda um pensador contemporâneo de J. Lennox e diz que somos semelhantes a uma catedral em ruínas: “bela e elegante, mas com as cicatrizes de uma catástrofe”, e o coronavírus “apenas mostrou com mais clareza que somos frágeis e vulneráveis”.

Relembra que Deus fala-nos de muitos modos. “Na nossa consciência, nos acontecimentos do mundo, nas nossas alegrias e conquistas; e fala igualmente nas nossas derrotas”, acreditando que esta pandemia é outra forma de falar connosco e de nos chamar a atenção para “quem somos”, convidando-nos a perceber que “nem tudo se encontra à nossa disposição e sob o nosso domínio” e que somos “frágeis e mortais”.

À pergunta se existirá um Deus, a quem possamos entregar a nossa vida, responde-nos apontando para o Crucificado onde “o vemos preso à cruz, suportando o sofrimento e a dor, partilhando o destino do ‘vale de lágrimas’ da humanidade e, ao mesmo tempo, todo envolvido numa entrega confiante e sem limites nas mãos do Pai”.

“É este mesmo Crucificado, morto na cruz, que apareceu vivo e ressuscitado na manhã de Páscoa. Ele não resolveu o escândalo do sofrimento através de um raciocínio brilhante; Ele partilhou o sofrimento da humanidade; viveu-o no amor até ao fim. E venceu”, refere D. Nuno Brás, falando numa “esperança certa de que o mal e a morte não têm a última palavra quanto ao destino do ser humano e do mundo”.

“Talvez o coronavírus nos convide a olhar para o Crucificado e para a coroa que Ele ostenta; a confiar nele e na vida que Ele nos oferece. Talvez nos convide a olhar para o irmão que sofre, mesmo (e sobretudo) para aquele que sofre de outra doença e de outro sofrimento que não o causado por esta pandemia. E convida-nos sempre, a olhar para a vida eterna, para lá da morte”.

Diz ainda que “se a coroa do vírus nos parece derrotar, saibamos que uma outra coroa — aquela que o próprio Deus sofreu na cruz e que continua a ostentar diante de nós — uma outra coroa é a nossa esperança” e nela podemos confiar, pois “é caminho de vida eterna”.

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