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Regresso ao passado

O ‘Ocean Science Meeting -OSM’ é o maior encontro bianual sobre ciências do mar que conheço. A edição de 2020 contou com a participação de cerca de 5000 cientistas, e a sua organização é fruto de uma cooperação entre as três maiores organizações profissionais da área: a ‘AGU – American Geophysical Union’, a ‘TOS – The Oceanography Society’ e a ‘ASLO - Association for the Sciences of Limnology and Oceanography’. É uma oportunidade única para expor os trabalhos ao maior crivo internacional da área. Para além das apresentações de trabalhos científicos, de um fórum de empresas, de uma mostra de equipamentos, de Projetos e de Instituições, podemos também agendar encontros bilaterais com especialistas de renome internacional. Durante uma semana respiramos ciência e tecnologias do mar no seu expoente máximo.

Foi com orgulho que representei o Observatório Oceânico da Madeira neste encontro com a apresentação de três trabalhos. Apesar das limitações inerentes à nossa presença no contexto internacional, os trabalhos desenvolvidos têm tido um eco positivo na comunidade científica, sobretudo pela sua originalidade. Quem se lembraria de contemplar as descargas de ribeiras no estudo da dinâmica costeira à escala das ilhas? Por outro lado, temos adotado o velho ditado: ‘se não tens cão, caça com gato’, e na impossibilidade de adquirir equipamento científico de vanguarda recorremos (pontualmente) ao aluguer, de forma a nunca comprometer a qualidade dos dados recolhidos. Caricatamente também somos consultados para averbar a performance e a funcionalidade de alguns dos equipamentos que operamos.

No entanto, é importante termos noção das nossas limitações face à realidade internacional. Por exemplo, a ‘OOI – Ocean Observatories Initiative’ é um consórcio de Observatórios Oceânicos dos EUA que conta com um financiamento de 50 milhões de dólares por ano, através de um contrato programa com a ‘NSF – National Science Foundation’. Numa perspetiva mais regional, o módulo do OOI instalado na costa de Oregon, conta com um orçamento de 7 milhões de dólares anuais, sendo 2 milhões destinados a financiar (exclusivamente) o tempo de navio, e os restantes 5 milhões utilizados para fazer face aos custos de manutenção de equipamento e de pessoal.

Nesta perspetiva, depois de testemunhar o que de melhor se faz no Mundo, trabalhar em ciências geofísicas (do mar e da atmosfera), na Madeira é como regressar a um passado longínquo muito díspar da realidade internacional. O financiamento Europeu tem fomentado algum desenvolvimento neste sector, mas é importante não esquecer que não podemos ‘brilhar’ só à custa de fundos comunitários, colocando-se a questão do que restará quando estes terminarem... Laboratórios vazios? Investigadores desempregados?

Por outro lado, continuamos a depender de uma burocracia arcaica para executar projetos financiados que inclui, por exemplo, a necessidade de solicitar autorizações e pareceres prévios para a aquisição de equipamentos informáticos que por vezes tardam mais do que o tempo de vida dos próprios Projetos. Na minha opinião, não cumprimos os requisitos mínimos para potenciar a longevidade dos avultados investimentos europeus. Para a área das ciências do mar, por exemplo, a Região não dispõe de um navio de investigação que possa ostentar uma recolha sistemática e independente de dados no mar. Não está garantida a sobrevivência do Observatório Oceânico da Madeira para além de Dezembro de 2020; um investimento Europeu que ascendeu aos 3.2 M euros no âmbito do atual quadro comunitário (Madeira-14-20). Continuamos a querer estimular a Economia Azul e a desenvolver estudos de impacto ambiental com acesso a escassa informação científica, rigorosa, atual e independente.

O panorama político regional sobre os assuntos do mar nunca esteve tão confuso. Para além de uma Secretaria dedicada ao Mar e às Pescas com competências e orçamento muito limitados, temos a Secretaria Regional de Ambiente, Recursos Naturais e Alterações Climáticas que conjuntamente com a Secretaria Regional de Turismo e Cultura também detêm competências na orla costeira. Em suma, a Madeira continua desprovida de uma estratégia concertada para o desenvolvimento do Mar e da Economia Azul e entre jantares e almoços de ilustres personalidades produzem-se muitos ‘sound bytes’ que servem sobretudo para confundir os menos informados.

‘Para Inglês ver’ pode ser uma estratégia adequada para o desenvolvimento do Turismo, mas não serve para promover a sustentabilidade e um desenvolvimento sério da Ciência, particularmente em áreas tão estratégicas para a Região como os Recursos e as Tecnologias do Mar.

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