Venezuela pode voltar a ficar às escuras um ano depois do grande apagão
Quase um ano depois do grande apagão que em 9 Março de 2019 deixou a Venezuela às escuras durante uma semana, os peritos e trabalhadores do sector advertem que o país poderá ficar de novo sem electricidade.
O alerta foi dado hoje em Caracas por motivo do aniversário do primeiro e mais grave apagão de 2019, ano em que ocorreram ainda outros sete grandes cortes no abastecimento de electricidade, três dos quais deixaram o país totalmente às escuras.
Segundo o engenheiro eléctrico Miguel Lara, os apagões, que passaram a ser frequentes na Venezuela, mas em menor dimensão deixaram o sistema eléctrico “limitado, vulnerável e pouco fiável” uma situação que se agrava devido à deterioração e à insuficiente manutenção em zonas importantes do país.
Miguel Lara era, até 2003, responsável pelo Escritório de Operações e Planificações do Sistema Interligado da estatal Corporação Eléctrica Nacional da Venezuela (Corpoelec), empresa que diz, é também afectada pela falta de pessoal capacitado, uma vez que centenas de profissionais optaram por emigrar devido à crise no país.
Apesar de a Corpoelec manter activo um sistema de racionamento eléctrico no país, devido ao défice de geração de energia, há Estados como Mérida e Zúlia, que não recuperaram das falhas eléctricas de 2019 e onde têm ocorrido protestos frequentes por apagões que duram mais de 72 horas, sendo necessário, segundo este engenheiro mais de 15 mil milhões de dólares (13,2 mil milhões de euros) para recuperar a infra-estrutura eléctrica do país.
Apesar de Caracas, a capital do país, ser uma zona “protegida” pelas autoridades, as falhas eléctricas também ocorrem, embora em menor duração e dimensão, com grande parte da cidade há mais de 24 horas às escuras, devido a uma falha de transmissão de 230 kwa que a Corpoelec diz ser provocado por “actos de sabotagem” na subestação de Las Delícias.
Segundo o sindicalista Arturo Ramos, da Federação de Trabalhadores Eléctricos, Março e Abril são dois meses em que a seca é mais forte na Venezuela, e por isso, além das constantes descidas de voltagem e dos cortes prolongados, o país poderá ficar de novo às escuras.
“O (maior) apagão do ano passado ocorreu por esta altura devido a não ter sido feita a manutenção dos corredores das linhas, oportunamente. Agora, o regime pôs os milicianos a fazer a manutenção. No entanto, isso não garante, por terem começado tarde, que todos os corredores estejam limpos”, explicou à imprensa.
As grandes falhas eléctricas começaram em 7 de Março, data em que ocorreu o maior apagão da história do país, que deixou a Venezuela totalmente às escuras.
O apagão durou entre cinco e sete dias, dependendo da região.
Nesse mesmo mês ocorreram outros dois grandes apagões.
As falhas de electricidade são cada vez mais frequentes na Venezuela e têm motivado protestos da população que se queixa também de danos em equipamentos eléctricos.
A situação afecta ainda os serviços de telefone, de telemóvel e de Internet.
O Governo venezuelano atribuiu os primeiros apagões a sabotagem dos Estados Unidos, uma acusação contestada por vários sectores profissionais que denunciam a falta de manutenção regular do sistema e falta de investimentos no sector.
Em setembro de 2019, José Aguilar, da empresa de consultadoria Aguilar International Power Generator & Risk Consultant, advertiu, através da rede social Twitter, que os apagões iriam afectar múltiplos Estados da Venezuela e ser uma constante nos próximos meses.