A Economia e o Covid-19
As notícias sobre o coronavírus são cada vez mais e aumentam de intensidade de acordo com o número de infetados e vitimas mortais. Mas este vírus tem outras dimensões e é por isso importante olhar para ele desde um ponto de vista diferente. Na china, a epidemia teve o seu máximo expoente no final de janeiro. A partir daí, o número de novos contágios e mortes associadas à doença tem vindo a diminuir consecutivamente. A forma como o governo Chinês abordou a situação revelou-se muito eficaz. Isolaram cidades, fecharam escolas e instituições públicas, construíram um hospital para tratar os infetados e impuseram uma espécie de recolher obrigatório. Se estas medidas de controlo continuarem a se demonstrar eficazes, a Organização Mundial de Saúde estima que lá para finais de março pode ser declarado o fim do surto epidémico.
As consequências económicas para a China revelaram-se significativas. Muitas fábricas fecharam criando uma disrupção na cadeia de produção, tanto a nível local como a nível global, com graves efeitos no consumo. Após a evolução positiva no número de novos casos, muitas fábricas estão a reabrir, mesmo que a trabalhar a meio gás. Este efeito é já visível em vários indicadores, mas também demonstram que continuam muito longe do seu máximo produtivo. Entretanto, a expansão do vírus para fora da China e para sítios tão afastados como o norte de Itália, Espanha, Brasil e Estados Unidos da América, deram uma nova dimensão ao vírus e obrigaram a uma nova abordagem. Percebemos que não podemos prever como vai evoluir o vírus, o que nos impede de prever quais os impactos económicos que poderá causar. Os mercados financeiros reagiram com quedas acentuadas perante a expansão do vírus pela Europa e muitos gigantes como a Apple anunciaram cortes nas expectativas de vendas para o primeiro trimestre de 2020. A rentabilidade a 10 anos da dívida norte americana desceu para níveis históricos e o preço do barril de petróleo (Brent) mostra uma situação de excesso de oferta, fruto do aumento da produção de petróleo e da queda na procura motivada pela menor procura da China e do medo de uma queda na economia global.
O impacto económico da epidemia é quase impossível de prever mas o certo é que a evolução de qualquer epidemia acaba sempre por causar fortes quebras na cadeia de produção, efeitos negativos no consumo, restrições no movimento de pessoas e perda de confiança nos agentes perante o risco de uma resposta insuficiente que leve ao agravamento da crise. O efeito económico final (negativo para o crescimento económico e com efeitos deflacionistas) dependerá sempre da extensão geográfica e temporal da epidemia que também condicionará os mercados financeiros.
Este cenário para Portugal não é nada positivo num momento em que o país depende do bom desempenho da economia global para conseguir consolidar o seu compromisso fiscal. Portugal, após seis anos de crescimento, está numa fase de maturação do seu ciclo económico que se caracteriza por uma desaceleração do ritmo de aumento e que o deixa por isso mais suscetível a novos impactos externos. Não deixa de ser irónico que no momento em que Portugal atinge um nível de recuperação sustentável da crise de 2008, ainda com alguns desequilíbrios estruturais, pode ver o seu objetivo afetado pela desaceleração global que obrigará o governo a aplicar medidas contracíclicas que se irão repercutir no aumento da dívida e com isso estragar o empenho do governo em terminar 2020 com superavit.