Governo afegão volta a adiar libertação de prisioneiros talibãs
O Governo afegão voltou hoje a adiar o início da libertação de 5.000 prisioneiros talibãs que deveriam ser libertados na manhã de terça-feira após um acordo entre Cabul e os insurgentes no âmbito do processo de paz.
“Não haverá libertação dos prisioneiros amanhã (terça-feira)”, disse em mensagem no Twitter Javid Faisal, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, o organismo governamental afegão que coordena o processo de libertação.
Na passada quarta-feira as duas partes tinham concordado durante uma vídeo conferência que a libertação dos prisioneiros seria iniciada terça-feira, na sequência do contacto entre as duas partes destinado a pôr termo a duas décadas de guerra no Afeganistão na sequência da invasão dos Estados Unidos em Outubro de 2001 em resposta aos atentados do 11 de Setembro.
Os talibãs propuseram o envio de uma delegação à prisão afegã de Bagram, onde se encontra a maioria dos detidos, para identificar os prisioneiros que devem ser libertados, de acordo com uma lista que elaboraram previamente.
A decisão de hoje sobre o adiamento do início da libertação de prisioneiros ocorre um dia após nova reunião entre equipas técnicas das duas partes na qual os talibãs reiteraram o envio de uma delegação que deveria acompanhar o Comité da Cruz Vermelha Internacional (CICR), para identificarem em conjunto os prisioneiros que integram o primeiro grupo de 100 combatentes libertados.
Faisal indicou que o atraso foi motivado pelo facto de os talibãs não terem conseguido enviar a sua delegação para concluir os detalhes do processo.
O porta-voz talibã, Zabihullah Mujahid, assegurou por sua vez à agência noticiosa Efe que os detalhes sobre a situação do processo de libertação dos prisioneiros “ficarão mais claros quando se souber finalmente se enviarão hoje, ou não, a sua delegação a Bagram”.
Os talibãs comprometeram-se a iniciar conversações de paz com o Governo afegão e discutir um eventual cessar-fogo global num acordo assinado em 29 de fevereiro com os Estados Unidos em Doha, que prevê uma retirada das tropas estrangeiras do Afeganistão num prazo de 14 meses em troca de garantias por parte da rebelião.
As discussões, com início previsto para 10 de março, foram atrasadas devido à lentidão de Cabul na designação dos seus negociadores. Surgiu ainda um diferendo sobre a libertação de um máximo de 5.000 prisioneiros talibãs em troca de 1.000 membros das forças de segurança afegãs detidos pelos rebeldes, uma medida incluída no acordo de Doha mas não ratificada por Cabul.
O Governo afegão recusou-se a iniciar a liberação dos presos antes do início das conversações inter-afegãs, e mais tarde sugeriu como alternativa a libertação escalonada de 1.500 insurgentes, uma proposta recusada pelos talibãs.
O acordo de Doha propõe que o contingente norte-americano no Afeganistão seja reduzido dos actuais 12.000 a 13.000 soldados para 8.600 até meados de Julho. As Forças Armadas dos EUA já iniciaram a retirada de duas bases, incluindo uma situada na província de Helmand (sul), em grande parte controlada pelos talibãs.
O início da desmobilização das forças norte-americanas poderá permitir aos talibãs o reforço do seu controlo no terreno e na sequência de um conflito que desde 2001, segundo dados oficiais, provocou mais de 4.000 mortos entre a força multinacional (incluindo 2.441 norte-americanos e 445 britânicos), centenas de milhares de vítimas afegãs e um custo para Washington avaliado em 975 mil milhões de dólares (874 mil milhões de euros).