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Morreu Manolis Glezos, símbolo da resistência grega à ocupação nazi

Foto EPA
Foto EPA

O grego Manolis Glezos, símbolo da resistência aos nazis que um mês após a invasão da Grécia pela Alemanha retirou a bandeira das forças de ocupação da Acrópole, morreu hoje, aos 98 anos, de insuficiência cardíaca, segundo fontes hospitalares.

Glezos era definido como um combatente incansável que nunca se coibiu de manifestar a sua opinião, quer em relação aos poderes que desafiou quer no interior dos partidos em que militou.

Em 30 de Maio de 1941, com apenas 19 anos e acompanhado por Apostolos Santas (1922-2011), subiu à colina da Acrópole de Atenas para arriar a bandeira nazi que as forças de ocupação alemãs tinham içado um mês antes.

Foi o primeiro acto de resistência contra a ocupação nazi e o início de uma actividade política em diversas formações de esquerda, com condenações à morte e 16 anos de prisão e no exílio.

Militante da Frente de Libertação Nacional (EAM), a resistência armada grega fundada pelo Partido Comunista (KKE) durante a ocupação nazi, foi detido e torturado três vezes.

Após a retirada alemã em finais de 1944 e numa situação política de grande tensão na Grécia, foi jornalista no Rizospastis (O Radical), jornal do KKE, uma carreira quase de imediato interrompida pelo início da guerra civil grega (1946-1949) e a proibição do jornal pelo governo nacional.

De novo detido em 1948 e acusado de pertencer ao KKE, foi condenado à morte por dois tribunais militares.

A mobilização internacional forçou o governo nacionalista a comutar a pena para prisão perpétua. Entre outros, pronunciaram-se a seu favor o general Charles de Gaulle, que o tinha considerado o “primeiro partisan [guerrilheiro] europeu”, e o pintor Pablo Picasso. Glezos foi libertado quatro anos depois.

Após a saída da prisão foi eleito para a direcção da Esquerda Democrática Unida (EDA, com ligações ao KKE) e dirigiu o diário do partido Avgi (A Aurora). Eleito deputado para o parlamento helénico em 1951, entrou em greve de fome para exigir a libertação de deputados da EDA detidos ou exilados nas ilhas gregas. Terminou a greve de fome após a libertação de sete deputados do exílio, e foi libertado em Julho de 1954.

Detido de novo em 1958, acusado de “espionagem” a favor da União Soviética, foi condenado a cinco anos de prisão e perda de direitos civis durante oito anos.

A sua detenção desencadeou de novo uma ampla mobilização internacional, nesta ocasião liderada pelos escritores Albert Camus e Jean-Paul Sartre, sendo libertado em 1962.

Na noite do golpe de Estado de extrema-direita dos coronéis (21 de Abril de 1967) foi preso e enviado até 1971 para as ilhas de Yaros e Leros, duas das diversas ilhas convertidas em prisões durante a ditadura.

Após a queda do regime dos coronéis em julho de 1974, Glezos dirigiu uma livraria no centro de Atenas.

Em 1986 foi eleito presidente de câmara de Aspirathos, ilha de Naxos, onde instaurou um sistema de governo dirigido por uma assembleia popular e conseguiu regenerar a agricultura local.

Na década de 1980 foi eleito deputado pelo Partido socialista pan-helénico (Pasok) de Andreas Papandreou, e mais recentemente pelo Partido da esquerda radical (Syriza), sendo eleito para o parlamento helénico (Voulí ton Ellínon) em 2012, e eurodeputado em 2014.

Após o início da crise económica de 2009 e a imposição dos programas de resgate pela ‘troika’ de credores internacionais, e apesar da sua idade, Glezos esteve na primeira linha dos protestos. Em julho de 2015, quando a liderança do Syriza e o primeiro-ministro Alexis Tsipras ignoraram os resultados de um referendo sobre o fim dos programas de austeridade, Glezos criticou com dureza o partido e rompeu com a formação.

Nos últimos anos liderou várias iniciativas para exigir da Alemanha o pagamento de compensações pela ocupação da Grécia durante o III Reich.

Manolis Glezos, que morreu hoje após dez dias internado num hospital, deixou mais de 20 obras que incluem poemas, ensaios principalmente relacionados com a ocupação nazi e a resistência e estudos sobre os dialectos das ilhas Cíclades.

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