Petrobras prepara-se para a pior crise de petróleo em 100 anos
O presidente da estatal brasileira Petrobras afirmou que as duras medidas de ajuste anunciadas na quinta-feira procuram preparar a companhia para o que considera ser a pior crise mundial do setor do petróleo em 100 anos.
Em videoconferência com os investidores, o presidente da maior empresa do Brasil, Roberto Castello Branco, disse que as petrolíferas de todo o mundo estão a enfrentar uma dupla crise, uma vez que os preços do crude e derivados caíram para os níveis mais baixos em 100 anos e, ao mesmo tempo, a pandemia da covid-19 e a paralisação da atividade levou a uma diminuição da procura.
“A minha perceção é de que estamos a viver um tempo sem precedentes, talvez a pior crise sofrida pela indústria do petróleo nos últimos 100 anos”, afirmou o presidente da quinta maior petrolífera de capital aberto do mundo. Apesar de ser estatal, a Petrobras tem ações negociadas nas bolsas de São Paulo, Nova Iorque e Madrid.
Para enfrentar as adversidades, a Petrobras anunciou na quinta-feira uma série de medidas de contingência, incluindo redução de investimentos, diminuição da produção, corte de gastos e o adiamento do pagamento de dividendos aos acionistas.
Em comunicado, a companhia indicou que o objetivo das medidas será fortalecer-se financeiramente e dar resistência aos negócios “num cenário de incerteza”.
Entre outras medidas, a empresa vai reduzir os investimentos planeados para este ano de 12 mil milhões de dólares (10,8 mil milhões de euros) para 8,5 mil milhões de dólares (7,7 mil milhões de euros) e vai diminuir a produção de petróleo em 100 mil barris por dia até ao final de março, devido ao excesso de oferta no mercado internacional e à diminuição da procura.
“Começamos a nos preparar para viver com um preço de petróleo tão baixo como 25 dólares (22,6 euros) por barril”, disse Castello Branco depois de admitir que a Petrobras fez projeções iniciais com a premissa de que o preço por barril seria superior a 40 dólares (36,2 euros) em 2020.
“A menos que ocorra algum evento inesperado, não prevemos uma recuperação significativa de preços”, acrescentou.
No último mês, a cotação do petróleo bruto caiu quase 60% como resultado da guerra de preços entre a Rússia e a Arábia Saudita, que, a partir de 01 de abril próximo e independentemente da menor procura, pretendem bombear toda a quantidade de petróleo que considerem apropriado, sem acatarem qualquer acordo para reduzir a produção.
Apesar da conjuntura negativa, Castello Branco esclareceu que a empresa vai manter o ambicioso programa de desinvestimento, que visa a venda de ativos entre 20.000 milhões e 30.000 milhões de dólares (18 mil milhões e 27 mil milhões de euros) entre 2020 e 2024, desde que os preços obtidos sejam favoráveis.
“Vamos continuar o nosso programa de desinvestimento. Se o preço das ofertas cair abaixo de nossas expectativas, é claro que não avançaremos”, frisou o presidente da Petrobras.
A redução da produção em 100.000 barris por dia até ao final de março pode prejudicar a meta da empresa de encerrar 2020 com uma produção média de 2,7 milhões de barris por dia.