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Crónicas

É tempo de o dinheiro servir para ajudar as pessoas

O problema é que como dizia Ricardo Araujo Pereira num famoso sketch dos Gato Fedorento “eles falam, falam, falam, mas não os vejo a fazer nada”

Para que serve o dinheiro senão para ajudar as pessoas? Para nos dar qualidade de vida e acesso a cuidados de saúde condignos? Mário Centeno revelou-nos que pela primeira vez na nossa democracia as administrações públicas registaram um excedente orçamental na ordem os 0,2% do PIB. Disse também que o orçamento atual contém nele margem para acomodar o reforço da despesa quer em gastos necessários no Serviço Nacional de Saúde quer num primeiro apoio às empresas e que o país nunca esteve tão bem preparado para lidar com uma crise como esta, transversal a toda a sociedade embora com maior ênfase em algumas zonas do planeta (para já...). Pois bem. Nesse caso ficamos então todos muito mais descansados sabendo que tudo correrá bem.

O problema é que como dizia Ricardo Araujo Pereira num famoso sketch dos Gato Fedorento “eles falam, falam, falam, mas não os vejo a fazer nada...!”. Está mais do que na hora de pensar um bocadinho menos no défice e na divida pública e colocar o dinheiro que descontamos ao nosso serviço. É preciso gastar e gastar a sério. A União Europeia já suspendeu o teto do Pacto de Estabilidade e Crescimento que nos obrigava a um limite de 3% precisamente para que nada falte aos países do eurogrupo para conter esta pandemia. O Banco Central Europeu lançou na semana passada um novo programa de compra de activos, no valor de 750 mil milhões de euros na tentativa de refrear os custos de financiamento num bloco económico que está a tentar várias soluções para enfrentar a crise económica provocada pela covid-19. Temos por isso luz verde para gastar.

Existem por isso duas fases identificadas para conter a crise económica declarada. Uma primeira fase imediata que terá que ser combatida pelos países com medidas estratégicas de apoio às empresas e aos funcionários e uma segunda fase em que teremos um pacote europeu de apoio extremamente reforçado. Ora é nesta primeira que mais uma vez estamos a revelar-nos lentos e inconsequentes. Para que o Portugal não entre numa onda de despedimentos em massa, de falência de empresas e pessoas, que irá resvalar para uma crise social sem precedentes e num número insuportável de subsídios de desemprego é premente colocar de forma simples e assertiva o dinheiro a rolar. Quando é que o dinheiro começa a chegar à tesouraria das empresas? Quase duas semanas depois de decretado o lay-off continuamos sem ter sinais dele enquanto noutros países as medidas se revelam bem mais eficazes.

O Estado vai ter que gastar de uma forma ou de outra. Ou ajuda rapidamente ou vai ter que pagar os custos do “crash” depois. Para isso o dinheiro tem que chegar às empresas para que estas possam pagar aos fornecedores e aos seus colaboradores. Se assim for haverá um fundo de maneio das famílias para que possam manter a sua vida e para que o dinheiro continue a fluir. Outra questão prende-se com os bancos, alguns deles que nós andamos a suportar há anos. De que forma vai o governo resolver com a banca a questão dos empréstimos, como vai ser a famosa moratória que anda a ser discutida há mais de uma semana e não tem ainda prazos e muito menos condições?

Um Ministro das Finanças que quando era oposição e lançou o seu programa anti-austeridade tinha como teoria económica “colocar dinheiro no bolso das pessoas” para alimentar a economia e estimular o consumo privado tem neste momento a sua verdadeira prova de fogo.Continuo a achar que são precisas medidas mais fortes e mais rápidas. Não é com deferimento de pagamentos dos impostos para o segundo semestre que vão lá. Só adiam um problema e estrangulam as empresas. Nem com a excessiva burocratização do sistema.É tempo do dinheiro servir para ajudar as empresas e as pessoas. Vem aí uma época alta que será completamente devastada e depois um longo e penoso Inverno...Com um tecido empresarial extremamente endividado e sem medidas expeditas que aguentem a economia já se está a ver para quem irá sobrar... Está na altura de colocar (como dizia Quinito) “a carne toda no assador”. Se o Mário é como dizem o Cristiano Ronaldo das Finanças o que lhe pedimos é que resolva o jogo a nosso favor.

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