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2020 O Ano do Coronavírus

Este ano eu ainda não tinha enviado a minha carta ao Diário de Notícias da Madeira, tal como fiz nos anos anteriores, porque eu não conseguia identificar a variável que tivesse impacto suficiente para arrastar a economia para uma recessão. O abrandamento da economia parecia ter vindo para ficar, tal como mencionei o ano passado, e por isso nada escrevi. Mas eis que surge o Coronavírus no horizonte e tudo mudou nas nossas vidas. É preciso termos bem ciente que só controlando a pandemia podemos recuperar a economia que vai cair numa recessão. E quanto mais rapidamente controlarmos a pandemia mais rapidamente podemos nos focar na recuperação da economia. Cada um de nós tem um papel a desempenhar para controlar o vírus. As autoridades competentes devem seguir as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) que tem uma enorme experiência no que toca a lidar com pandemias. Vozes como por exemplo a de Michael Ryan da OMS devem ser escutadas com muita atenção pelas autoridades de saúde pública portuguesas. E os bons exemplos no combate ao vírus, como é o caso de Macau, devem ser seguidos pelos nossos governantes. Mas acima de tudo, os nossos políticos, devem escutar todos os profissionais portugueses que estão na linha da frente a lutar contra a pandemia. E nós os cidadãos anónimos? Temos de seguir à risca todas as recomendações: lavar as mãos, manter a distância social ao sair á rua entre outras; e o que for determinado no âmbito do Estado de Emergência. Acima de tudo o Coronavírus será um teste à nossa autodisciplina social.

Do ponto de vista económico, na minha opinião, o governo este muito bem nas medidas que enunciou após ter sido decretado o Estado de Emergência. Mas que não restem dúvidas que a recessão é inevitável. Por isso os apoios do governo à economia têm de ser complementados com os apoios da União Europeia e do Banco Central Europeu.

Do ponto de vista social há realidades frágeis que não podemos esquecer e que merecem uma resposta generosa das autoridades políticas: as pessoas sem abrigo, os trabalhadores precários e as micro empresas que viram os seus rendimentos em muitos casos cair a pique ou pura e simplesmente desaparecer, as crianças e jovens desfavorecidas que não têm computador com internet o que muito provavelmente irá comprometer seriamente a sua aprendizagem escolar. Está na altura por isso de colocar em prática o Rendimento Básico Incondicional.

Destaco uma triste realidade que está a ser veiculada nos meios de comunicação social e que também me preocupa imenso: a violência doméstica. Temos de continuar atentos a este flagelo na nossa sociedade. Não esqueçamos que a violência doméstica é um crime público.

As próximas semanas serão muito duras pela mortandade que este vírus vai causar. O número de mortes vai aumentar brutalmente e isso causará imenso transtorno nas comunidades em todo o País. E quando a angústia, o medo e o pânico tentarem dominar todo o nosso ser, recordemos estas palavras escritas por Fernando Pessoa que tão bem espelham a essência da alma portuguesa nos momentos mais difíceis: “Cheio de Deus, não temo o que virá, pois venha o que vier, nunca será maior que a minha alma.”

Duarte Barreto Figueira

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