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Portugueses na Holanda criticam “descontração” no país perante pandemia

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Numa altura em que praticamente todos os países europeus impõem severas restrições à população para tentar conter a propagação da covid-19, portugueses residentes na Holanda criticam a “descontração” no país, onde dizem ver crianças e adultos a conviver.

Cidadãos confinados às suas casas, fronteiras controladas e fechadas, escolas encerradas, ajuntamentos proibidos, estabelecimentos encerrados e restrições nos transportes públicos... Este é o retrato de uma União Europeia (UE) bloqueada que tenta, dessa forma, conter o surto do novo coronavírus, um panorama até agora bem diferente do testemunhado por portugueses na Holanda.

A portuense Sofia Martins, de 31 anos, está a viver em Roterdão desde o início deste mês, altura na qual decidiu deixar o trabalho na área da saúde que tinha em Portugal para encontrar novas experiências profissionais na Holanda.

“Cheguei na altura errada e sinto-me completamente desamparada”, diz a jovem à Lusa.

Foi por iniciativa própria e face às “poucas medidas tomadas” e à “muita descontração” do governo holandês que a jovem optou por se precaver do contágio.

“Mantenho-me por casa para evitar o contacto, passeio a minha cadela em horas de menos movimento na rua e lavo as mãos constantemente com água e sabão”, aponta.

“Dadas as circunstâncias atuais, e vindo eu da área da saúde em Portugal, vivo um pouco receosa desde a minha chegada à Holanda”, admite Sofia Martins à Lusa.

“Continuo a ver imensas crianças que foram dispensadas da escola a frequentarem parques infantis em grupos, assim como os pais continuam a levar a sua vida social, e isso preocupa-me porque vejo os números todos os dias a aumentar e creio que as pessoas também não têm qualquer consciência para mudar temporariamente esses hábitos”, lamenta.

A Holanda ultrapassou hoje a barreira dos cinco mil casos confirmados, após aumentos expressivos nos últimos dias (811 destas infeções foram registadas nas últimas 24 horas), tendo já registado também 276 mortes, segundo os dados divulgados esta manhã.

E foi também hoje que entrou em vigor aquilo que o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, chamou de “bloqueio inteligente”, com medidas mais apertadas, que preveem multas de até 400 euros para cidadãos e de 4.000 euros para empresas em caso de incumprimento de questões como a proibição de reunião e ajuntamento, a obrigação de manter uma distância de 1,5 metros em relação a outras pessoas em todos os locais (medida que também é válida dentro de casa em caso de visitas) e a permissão de apenas um cliente por cada 10 metros quadrados nos supermercados e farmácias.

Antes, em meados deste mês, foram encerradas as escolas, restaurantes, locais de lazer e de desporto e foram emitidas recomendações para teletrabalho.

A viver na cidade holandesa de Utrecht desde dezembro de 2018, Patrícia Pereira afirma à Lusa que, “visto que até agora foram poucas as medidas adotadas no país, seria de esperar um aumento do número de casos registados”.

“Não sei se as pessoas estão de facto mais preocupadas ou se percebem a gravidade da situação, mas agora têm regras a cumprir”, destaca a jovem ‘designer’ de 24 anos, recordando que, ao início, não existiam regras, apenas recomendações, e que hoje a situação mudou.

Patrícia Pereira adianta esperar que isso mude também a mentalidade dos holandeses.

“Na última vez que fui às compras, no sábado passado, o supermercado estava cheio de gente e a maioria das pessoas não respeitava o metro e meio de distância. Havia até quem fizesse piadas com o assunto e começasse a tossir para o ar e a rir”, adianta à Lusa.

João Leite, um engenheiro mecânico de 29 anos, vive em Eindhoven há dois anos e tem notado um “incremento nas restrições” aplicadas pelas autoridades holandesas devido à covid-19.

“Penso que, [da parte da população], também há uma apreensão crescente, mas mesmo assim ainda vejo algumas pessoas na rua”, aponta o jovem portuense à Lusa.

Comparando com a situação em Portugal, João Leite diz: “Noto que os meus amigos em Portugal começaram a encarar a situação com mais seriedade e mais cedo”.

O jovem conta ainda à Lusa ter viajado há cerca de duas semanas para Taiwan, na China, em trabalho, e quando regressou à Holanda “não houve qualquer tipo de controlo”.

A residir em Haia há seis anos, Ricardo Oliveira, natural de Paços Ferreira, observa que a situação “está a mudar bastante depressa” na Holanda.

Segundo o jovem de 24 anos, que está a tirar um mestrado em Música e trabalhar como músico, os números “assustam mais as pessoas de fora do que os holandeses”.

“Só agora, com esta última decisão [do governo], é que noto que as pessoas estão realmente a cumprir as indicações das autoridades”, adianta Ricardo Oliveira, afirmando não compreender “como é que a Holanda não tomou logo, aquando do primeiro caso, a iniciativa de prevenir a situação atual”.

Já Tiago Silva Branco, natural de Alcanena e a viver em Tilburgo, onde trabalha como operador logístico, diz à Lusa que, como o seu trabalho exige a sua presença, continua a “trabalhar normalmente”.

À semelhança dos outros portugueses, Tiago Silva Branco, de 31 anos, indica não notar “uma preocupação exagerada por parte das pessoas em geral”, e adianta não ter havido “corridas aos supermercados nem à farmácia”.

Num discurso à nação feito há uma semana, o primeiro de um primeiro-ministro holandês em 70 anos, Mark Rutte rejeitou um bloqueio nacional, por considerar que esse tipo de medidas “não tem precedentes para os países em tempos de paz”, e explicou optar antes pela estratégia da imunidade de grupo para proteger a população mais idosa.

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