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Lula da Silva pede desculpas à China por declarações de filho de Bolsonaro

Foto Fabrice COFFRINI/AFP
Foto Fabrice COFFRINI/AFP

O ex-Presidente brasileiro Lula da Silva apresentou um pedido de desculpas à China em nome do povo brasileiro, após um dos filhos do atual chefe de Estado do Brasil ter acusado o gigante asiático da pandemia do novo coronavírus.

Numa carta endereçada ao Presidente chinês, Xi Jinping, o antigo líder socialista brasileiro pediu também desculpa pelo silêncio do chefe de Estado, Jair Bolsonaro, perante a divergência diplomática, de acordo com carta hoje divulgada pelo Instituto Lula.

“Em nome da amizade entre os povos do Brasil e da China, cultivada por sucessivos governos dos dois países ao longo de quase cinco décadas, venho repudiar a inaceitável agressão feita a seu grande país por um deputado que vem a ser filho do atual Presidente da República do Brasil”, lê-se na carta assinada pelo antigo chefe de Estado brasileiro.

A mensagem surge como uma reação às declarações do deputado Eduardo Bolsonaro, que na terça-feira acusou a China de ter criado uma crise mundial resultante da propagação do novo coronavírus, responsável pela pandemia de covid-19.

Segundo o filho do atual Presidente, que atuou como assessor de Bolsonaro em assuntos internacionais e que foi proposto como embaixador do Brasil em Washington, o regime chinês “preferiu esconder algo grave a expor, tendo desgaste, mas que salvaria inúmeras vidas”.

Na missiva, Lula da Silva assegura que a atitude “ofensiva e leviana, contraria frontalmente os sentimentos de respeito e admiração do povo brasileiro pela China”.

“Creio expressar o sentimento de uma nação, que tive a responsabilidade de presidir por dois mandatos, ao pedir desculpas ao povo e ao Governo da china pelo comportamento deplorável daquele deputado”, vincou Lula.

Na carta, o antigo chefe de Estado lamenta que o atual executivo do Brasil não tenha ainda pedido desculpas “pelos canais diplomáticos e por meio do próprio Presidente”, que, diz, “deveria ter sido o primeiro a tomar tal atitude”.

“Seu silêncio envergonha o Brasil e comprova a estreiteza de uma visão de mundo que despreza a verdade, a Ciência, a convivência entre os povos e a própria democracia”, acusou Lula, dirigindo-se a Bolsonaro.

Apesar de o embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, ter expressado o “repúdio” e a “indignação” da China face às declarações de Bolsonaro e exigido um pedido de desculpas, nem o deputado nem o Ministério das Relações Exteriores brasileiro o fizeram.

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, esclareceu que Eduardo Bolsonaro não representa o Governo e exigiu antes que o embaixador se retratasse da sua reação “desproporcional” e “inaceitável”.

“Já comuniquei ao embaixador da China a insatisfação do Governo brasileiro com seu comportamento. Temos expectativa de uma retratação”, afirmou o chefe da diplomacia brasileira na quinta-feira.

Jair Bolsonaro desvalorizou as declarações e rejeitou a existência de uma crise diplomática.

“O que o parlamentar veio a escrever ou não [não importa]. Eles vivem criticando o Governo americano por minha causa e ninguém fala nada”, disse Bolsonaro na sexta-feira.

Lula acusou ainda Bolsonaro de ser “um reles bajulador” do Presidente norte-americano, Donald Trump, desvalorizando as relações com “países amigos” do Brasil.

“Lamento especialmente que esta agressão tenha ocorrido na conjuntura de um contencioso comercial entre a China e os Estados Unidos, país ao qual a política externa brasileira vem sendo submetida de maneira servil por este governo. Bolsonaro rebaixa as relações do Brasil com países amigos e se rebaixa como reles bajulador do presidente Donald Trump”, escreveu Lula na carta.

A China é, desde 2009, o principal parceiro comercial do Brasil, representando uma das maiores fontes de investimento estrangeiro na economia brasileira.

Segundo os dados oficiais, o comércio entre os dois países passou de 3.200 milhões de dólares (3.000 milhões de euros, ao câmbio atual) em 2001, para 98.000 milhões de dólares em 2019 (91.900 milhões de euros).

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 324.000 casos de infeção em 171 países e territórios, em todo o mundo, das quais mais de 14.300 morreram.

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