“Milhares de famílias em êxodo” dos parques de campismo
De acordo com o despacho, até dia 27 de março de 2020, deve dar-se a “saída ordeira e tranquila dos utentes dos parques de campismo e de caravanismo
A responsável pelo setor do Campismo, Caravanismo e Hotelaria de Ar Livre da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) mostrou-se hoje preocupada com o despacho que define as condições para o efetivo encerramento dos parques, afirmando a existência de “milhares de famílias em êxodo”.
“São milhares de famílias em êxodo, em vez de continuarem confinadas como até aqui, a maioria casais seniores, pertencendo portanto ao grupo de risco dos idosos e mais vulneráveis e que estão a ficar muito ansiosos sem saberem para onde ir e o que nos dizem é que estar nos parques de campismo em Portugal neste contexto em que vivemos é o lugar mais seguro onde poderiam estar”, disse à Lusa Beatriz Santos.
De acordo com a presidente do grupo de setor do Campismo, Caravanismo, Hotelaria de Ar Livre, Parques Temáticos e Espaços de Animação Turística da AHRESP, todos os “empreendimentos turísticos podem funcionar, exceto os parques de campismo”.
A responsável acrescentou ainda que as condições para o efetivo encerramento dos parques de campismo definidas no despacho do gabinete da secretária de Estado do Turismo, publicado no domingo em Diário da República, estão a ser transmitidas aos clientes “no sentido de se cumprirem as determinações”.
“Ainda por cima nesta altura do ano a lotação dos parques de campismo é mínima, os clientes estão confinados aos seus equipamentos de campismo, caravanas e auto caravanas, com todas as comodidades (incluindo o seu próprio WC), muitos outros estão em bungalows que são unidades de alojamento incluindo igualmente WC privativo”, explicou a responsável.
De acordo com Beatriz Santos, a maioria dos clientes são “estrangeiros habituais”, que chegam de avião e “permanecem entre outubro e maio, sobretudo no Algarve, além de que não falta espaço de distanciamento”.
“E estamos a mandar as pessoas para a rua... não compreendemos isto e os clientes também não”, desabafou.
Após o diploma que decretou o estado de emergência, a AHRESP enviou um pedido de esclarecimento com uma série de preocupações do setor a respeito da decisão de encerramento dos parques de campismo e caravanismo e dos problemas daí decorrentes para os seus utentes.
Beatriz Santos acrescenta ainda que existem “diferenças significativas” entre os parques de campismo associativos e os parques de acesso ao público em geral.
De acordo com o despacho, até dia 27 de março de 2020, deve dar-se a “saída ordeira e tranquila dos utentes dos parques de campismo e de caravanismo, bem como dos utentes das áreas de serviço de autocaravanas”.
As entidades exploradoras dos parques de campismo e de caravanismo têm a obrigação de cumprir, com as devidas adaptações, as regras de segurança e higiene determinadas, com especial destaque para o artigo 13º, que prevê um distanciamento mínimo de dois metros entre pessoas.
Segundo o documento, cujas principais linhas estão publicadas na página online da AHRESP, os utentes dos parques de campismo e de caravanismo que, no momento da declaração de estado de emergência efetuada em 18 de março passado, residam a título permanente nestes estabelecimentos turísticos, podem neles permanecer “para assegurar a resposta à necessidade habitacional”.
Desta forma, as entidades exploradoras dos recintos em questão “têm a obrigação de assegurar a prestação dos serviços mínimos de abastecimento de eletricidade, água, segurança de pessoas e bens e tratamento de resíduos sólidos urbanos”.
Os serviços de restauração e bebidas não integram o conceito de serviços mínimos.
Beatriz Santos, que também é diretora do grupo Orbitur, que gere 24 empreendimentos turísticos, revelou que a ocupação atual é “muito reduzida”, lembrando a proibição por lei de viver naqueles espaços, embora reconheça “longas permanências”, sobretudo de estrangeiros.
De acordo com a responsável, a Páscoa “habitualmente garante a ocupação em torno de 40% a 60%, dependendo dos estabelecimentos e respetiva localização, mas tudo foi cancelado com a covid-19”.