Crescer em tempos difíceis
No dia em que escrevo este artigo de opinião, dia 19 de março, Dia do Pai, vejo-me a recordar o dia em que, numa aula, questionei os alunos sobre a idade do pai de cada um deles. Foram várias as respostas, idades diferentes, que serviram para levantar outra questão: quais os alunos que eram os filhos mais velhos? As respostas não se fizeram esperar e tínhamos na sala de aula vários alunos que eram os filhos mais velhos. Posto isto, surge uma outra questão: a idade do pai é a idade do filho mais velho? As respostas foram unânimes: impossível, professor! Isso não faz sentido! Depois da explicação de que o “pai” e a “mãe” só são “pai” e “mãe” depois do nascimento do primeiro filho, pois antes não eram “pais”! Portanto, a idade dos “pais”, enquanto tal, coincide com a idade do primeiro filho do casal, o filho mais velho! Esclarecida a dúvida, soube posteriormente que em casa aconteceram várias explicações aos pais sobre esta “novidade” que tinham “aprendido” na escola. Foram várias as conversas em família sobre este assunto, que se tornou descoberta para os alunos e para alguns pais.
Serve esta “nota introdutória” para uma breve reflexão sobre a realidade social e familiar que se vive na atualidade, sob um ambiente assustador, em resultado de uma pandemia causada pelo Covid-19. Devido a esta pandemia, as escolas encerraram, os pais veem-se confrontados com os filhos em casa, surge a preocupação para os manter ocupados, os próprios pais passam ao teletrabalho a partir de casa...diria que, em algumas situações, está instalado o caos! Mas, vejamos o lado positivo deste tempo passado com os filhos: são momentos passados juntos que ajudarão a fortalecer laços, a um maior conhecimento mútuo, à partilha e à transmissão de saberes e de valores, a novas descobertas, à realização de atividades em conjunto, um forte apelo à criatividade e um teste à paciência de todos nós, pais...
Aos pais cabe a responsabilidade de educar, no sentido de promoverem um conjunto de normas pedagógicas vocacionadas para o desenvolvimento do corpo e da mente do seu filho ou filha, bem como promover medidas práticas que se enquadram naquilo que é socialmente correto. Portanto, este período de tempo juntos servirá para esta “doutrinação” dos filhos e dar-lhes ferramentas que os ajudarão a construir a sua própria personalidade e identidade.
Sabemos que os nossos filhos nunca serão como nós! Os seus caminhos terão outro rumo e outras alternativas que desembocarão em outras saídas profissionais e até pessoais. Não passarão pelas mesmas provações que nós, pais! Passarão por outras, certamente, mas para as quais precisarão de uma base consolidada pelos valores que cabe aos pais transmitir. Valores como a responsabilidade, a solidariedade, a honestidade, a humildade, a partilha e o altruísmo – que emergem em situações como aquela que estamos a viver – são valores que se transmitem pelas palavras, mas principalmente pelo exemplo, pelo modelo. E neste sentido, são os pais que têm a tarefa de, por via da palavra e do exemplo, transmitir estes e outros valores.
Relativamente às redes sociais, uma ilação: as redes sociais, na maioria dos casos, ensinam, transmitem conhecimentos, dizem como fazer, promovem o ter, o saber fazer, mas deturpam, na maior parte das vezes, o verdadeiro saber ser e saber estar. Ou seja, ensinam, mas não educam! Para promover um equilíbrio entre o educar e o ensinar, têm um papel fundamental os pais e a escola. Mas como as escolas estão encerradas, vamos nós, pais, fazer a nossa parte! Um bem-haja a todos os pais!