COVID-19
A estratégia e a táctica não podem ser as habituais numa guerra convencional em que se conhece bem o inimigo
A crise mundial provocada pelo COVID-19 tem-nos feito viver uma experiência nova da qual, mais tarde, espero que possamos tirar lições proveitosas. No entretanto, há momentos em que me parece estar a ver um daqueles filmes-catástrofe de baixo orçamento e com actores de terceira categoria.
Para isso tem contribuído as muitas imagens, vindas de todo o mundo, com ruas desertas, pessoas a usarem máscaras, militares e polícias nas ruas e às portas de lojas e entidades oficias, declarações pouco claras ou pouco convincentes de protagonistas dos mais diversos níveis de competência que, à falta de melhor informação, debitam sentenças frequentemente contraditas na hora seguinte. Entrevistas avulsas em que os entrevistados ou demonstram uma perfeita inconsciência da situação ou apresentam hipóteses mirabolantes e catastróficas.
Também grande parte dos responsáveis políticos demonstra, como seria natural, estar impreparada para enfrentar uma situação com contornos de fim-do-mundo. É patente o esforço, que a maioria faz, para aclamar os ânimos da população, embora, para quem esteja atento à linguagem corporal, passe uma mensagem contraditória ao discurso.
Os grandes líderes mundiais (os que temos...) tomam posições públicas que demonstram que a globalização ainda não chegou às cabeças. Desde a desvalorização boçal de um Trump, à postura místico-beata de um Bolsonaro, à aparente inconsciência de um Boris Johnson, à objectividade de uma Merkle e ao “desaparecimento” de um Marcelo Rebelo de Sousa, tem havido de tudo um pouco.
António Costa, com a sua proverbial habilidade para “levar a água ao seu moinho”, tem conseguido navegar as águas agitadas da actualidade. Miguel Albuquerque mantendo, embora, em fundo, o contencioso com a República, também não tem ficado mal no retrato.
No meio de tudo isto, sobressai a organização e a eficácia dos regimes orientais, com especial destaque para a China, que pode fazer abalar as convicções democráticas de muitos ocidentais pouco esclarecidos.
Uma das maiores vítimas de toda esta crise é a União Europeia que tem dado mostras de algum desatino e pouca capacidade de... união.
Como tem sido largamente referido, estamos num “cenário de guerra”. Guerra contra um inimigo mal conhecido que se introduziu sub-repticiamente, num local remoto, distante e, antes que tomássemos conta disso, está por toda a parte.
Nem se pode considerar uma guerra convencional. É mais uma guerra de guerrilha. Como tal, a estratégia e a táctica não podem ser as habituais numa guerra convencional em que se conhece bem o inimigo e, com algum esforço, se consegue saber onde se encontra e prever os seus movimentos.
Não conhecemos a organização do inimigo. Apenas conhecemos os estragos que causa. Daí a necessidade de nos organizarmos. Todos. Em uníssono. Deixar de parte os nossos pequenos desentendimentos e inflados egos. Trabalharmos todos para a defesa de todos. Como numa guerra, tem de haver liderança. Hierarquia. Cumprimento de ordens sem questionar. Mesmo que o façamos mais tarde, nem que seja como exercício teórico. Mesmo que as medidas propostas nem todas sejam, aparentemente, as mais acertadas.
Não pode haver tibieza. Não se admitem dissensões. Tal como o corpo nos ensina quando, em graves dificuldades, desliga todos os órgãos e funções não essenciais para preservar...a vida!
A hora é de concentrar atenções na luta contra o inimigo comum. Depois, se houver necessidade disso, discutiremos.