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Futebol impreparado para desafios de um “futuro incerto”

Jorge Castro, ao centro.   Foto António Simões / Global Imagens
Jorge Castro, ao centro. Foto António Simões / Global Imagens

A indústria do futebol mostra-se impreparada para lidar com os efeitos da paragem competitiva prolongada, imposta pela pandemia de covid-19, afirmou hoje à agência Lusa Jorge Castelo, referência teórica do treino desportivo.

“É uma coisa absolutamente inédita e vai ficar para a história. Estamos todos a aprender em cima do acontecimento, até mesmo as pessoas da área médica, da gestão desportiva e da metodologia do treino. Se as equipas estão preparadas? Penso que ninguém está preparado para uma paragem de dois meses, muito menos os jogadores, habituados a alta intensidade desportiva e pressão social”, elucidou o treinador.

Convicto de que “a época terminou”, embora aguarde “com expectativa” a inversão da curva ascendente do novo coronavírus, Jorge Castelo alerta que a “catadupa de problemas” na esfera futebolística mundial ultrapassa o “mero arranque da competição”, colocando mesmo em causa acordos entre determinados atletas e respetivos clubes.

“Alguns jogadores têm contratos a terminar e outros tinham a promessa de encontrar uma melhor oportunidade profissional. Muitas questões estão em cima da mesa e não é fácil dar respostas. Aguardaremos que o tempo e as medidas cautelares possam mudar rapidamente esta situação, mas estou realisticamente pessimista”, lamentou.

O antigo adjunto de Benfica e Sporting considera que o “futuro incerto” pode desencadear inquietações do foro psicológico, ilustradas com o “falso terminar” por parte de “uma percentagem de jogadores” que se mentalizou para pendurar as botas no verão, além do “modo brusco” como os mais jovens viram os seus sonhos interrompidos.

“Pensemos naquele jogador que estava quase a ganhar um lugar. Andou tanto tempo a trabalhar para contribuir de uma forma muito mais contínua, mas neste momento não pode ajudar a equipa. Estes atletas podem vir a sofrer na perceção dos problemas e enfrentar uma cisão psicológica forte, que permita um certo conformismo ou a falta dele”, partilhou.

As competições ficaram suspensas por tempo indeterminado quando se encaminhavam para as rondas finais e o regresso à normalidade extravasa o próprio futebol, mas Jorge Castelo recusa a necessidade de uma nova pré-época, antevendo que as equipas estarão “minimamente preparadas” num prazo máximo entre 10 e 15 dias.

“Partindo de um cenário com oito semanas de paragem, os jogadores não precisarão mais do que esse intervalo, até porque foram acumulando um tempo bastante elevado de treino e competição. Neste retiro, devem manter-se ativos e tentar treinar à hora tradicional, pois o biorritmo faz com que o corpo goste de manter um certo padrão”, constatou.

O adiamento do Euro2020 deu folga às ambições dos campeonatos domésticos para concluir a temporada, levando o doutorado em Ciências do Desporto pela Faculdade de Motricidade Humana a estimar uma média de “dois jogos por semana” como forma de “amortecer” as sucessivas prorrogações causadas pela covid-19.

“Temos de recuperar as pessoas e fazer com que este vírus não afete mais ninguém. O futebol não é a coisa mais importante da nossa vida, mas apenas uma parte dela”, finalizou, acerca do novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19.

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