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Resiliência

O início da terceira semana de março trouxe consigo a confirmação de que a nossa batalha contra o COVID-19 é só o início de um processo relativamente longo que incluirá necessariamente uma retoma económica pelo meio.

Todo este processo parece-me surreal ainda hoje, digno de um filme produzido em Hollywood.

No meio da ansiedade, da incerteza e do receio em torno do futuro – e porque muitas vezes é preciso voltar ao passado para olhar com outros olhos para o que aí vem – gostaria de relembrar a fibra dos portugueses e, em especial, dos madeirenses neste tipo de situações.

Relembro, por exemplo, o 20 de fevereiro de 2010 e toda a desgraça e morte que esse dia nos trouxe. Quando tudo acalmou, fui com a minha família à procura de notícias que teimavam em não chegar lá a casa. Encontrámos uma televisão num centro comercial que passava o noticiário das oito. No meio das peças jornalísticas, assim como da calamidade que estas mostravam, ali estava um madeirense no meio do nada que tinha acabado de perder tudo, dando uma entrevista. O seu discurso era pesado, mas deixava claro que não tencionava baixar os braços. Só pensava na reconstrução que tinha pela frente para poder começar novamente a sua vida. Ainda hoje, passados estes anos todos, sempre que a vida aperta comigo lembro-me dessa entrevista.

Relembro também a enorme miséria e incerteza que a mais recente crise financeira sofrida em Portugal – despoletada por desvaneios transfronteiriços gananciosos - nos conduziu, obrigando os madeirenses e as suas empresas a serem ainda mais inventivos e esforçados para dar a volta e ultrapassar todas as dificuldades que existiam, acrescidas pela insularidade, o que efetivamente veio a acontecer. Nessa altura, quantas empresas se tornaram insolventes? Quantos empregos se perderam? Quantas casas se devolveram? Quantas famílias tiveram de viver na incerteza diária relativamente ao amanhã?

Mais recentemente, recordo o sismo de proporções anormais para a nossa ilha, sentido no passado dia 7 de março, e a reação da população de instantânea união social e entreajuda, verificada até entre vizinhos que não se falavam há anos!

Recorro a estes exemplos para nem ir buscar outros de um passado mais longínquo onde a fome, o isolamento social e os efeitos da ultraperiferia eram sentidos numa dimensão totalmente diferente, provas que também superamos.

No meio disto tudo, a palavra “resiliência” parece-me sempre a mais adequada para caracterizar o povo madeirense, que contra tudo e todos – as vezes, até contra si mesmo – resiste, uma e outra vez.

Não há mar que nos limite. Não há intempérie que nos deite abaixo. Não há sismo que nos abale. E não vai haver vírus que nos mate porque a resiliência está no nosso ADN.

Por conhecer o nosso passado estou confiante e otimista quanto ao futuro. Sempre ciente, no entanto, que este futuro depende agora, mais do que nunca, de cada um de nós.

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