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Enfermeiros portugueses ficam em Espanha para proteger “família e doentes”

Foto  NUNO VEIGA/LUSA
Foto NUNO VEIGA/LUSA

Os profissionais de saúde portugueses a trabalhar na Galiza estão a atravessar diariamente a fronteira, que está novamente sob controlo, mas alguns optam por permanecer nas próximas semanas em Espanha para “proteger a família, colegas e doentes”.

Sem se deslocar à sua terra natal, em Chaves, no distrito de Vila Real, há duas semanas, Hugo Rodrigues, enfermeiro num lar de idosos na Galiza, em Espanha, não pensa em regressar até “a situação da pandemia da Covid-19 acalmar”.

“É por opção. Trabalho com muitas pessoas e nunca se sabe se poderei alguma vez ficar infetado e levar o vírus para junto dos meus familiares. Já depois de eu ter tomado esta decisão, a minha chefe veio falar comigo e pedir-me para não ir a Portugal para não prejudicar a minha família, mas também para fazer o meu melhor para proteger aqueles 125 residentes que temos no lar e que estão mais expostos”, sublinhou à agência Lusa.

Apesar de longe da sua terra e confinado a casa, Hugo Rodrigues, de 24 anos, garante que está a passar bem toda esta situação por continuar a trabalhar, algo que permite “aliviar a cabeça”.

“Temos de aguentar. Aqui [em Espanha] os políticos falaram em 15 dias de quarentena e que depois iam atualizando o prognóstico, eu digo que vai ser no mínimo um mês. Temos que ser conscientes, o vírus espalha-se por contacto, então se nós ficarmos em casa e não nos movermos ele vai ficar imóvel e vai estagnar. Está nas nossas mãos a cura deste vírus”, diz.

Hugo Rodrigues está há um ano e meio a trabalhar num lar de idosos na zona de Ourense, a cerca de uma hora de viagem de carro de Chaves.

Também Adriana Pereira, a trabalhar em Ourense há um ano e meio, opta por ficar por Espanha nos próximos tempos, após a vinda a Chaves, de onde é natural, no último fim de semana.

“Dadas as circunstâncias, e por Espanha e Portugal terem declarado estado de emergência, não voltarei nas próximas semanas”, garante a enfermeira, de 24 anos.

Para Adriana Pereira, as pessoas “só agora estão a levar esta pandemia a sério e têm medo”.

“Isso afeta até o ambiente de trabalho. Os cuidados são a redobrar, por nós e por eles. Mesmo com falta de recursos damos sempre o nosso melhor”, realça.

Já Carlos Varandas, enfermeiro de 35 anos, é um dos muitos profissionais daquele concelho de Trás-os-Montes que se desloca diariamente para a Galiza onde trabalha para o serviço galego de saúde.

“Ao chegarmos a casa, a roupa é logo colocada a lavar, e tomamos logo banho. Recorrentemente lavamos as mãos com gel desinfetante. Seguimos o protocolo”, conta o profissional natural e a residir em Chaves.

Há 10 anos a trabalhar no país vizinho, e há 8 a deslocar-se quase diariamente entre os dois países, pela primeira vez está a ser controlado na fronteira, que desde segunda-feira se encontra sob controlo devido à pandemia da Covid-19.

“Tenho uma credencial e o cartão de trabalhador do serviço galego de saúde para passar a fronteira, mas como a autoestrada está fechada perco mais 15 minutos em média para sair e entrar em Portugal”, confessa.

Apesar disso, o enfermeiro percebe a necessidade de verificar as fronteiras pela “controlar os fluxos e evitar que as pessoas se movimentem para fazer turismo ou compras”.

Com dois filhos, Carlos Varandas mantém o ritmo de trabalhar em Espanha e viver em Portugal, pois é profissional no serviço de oncologia e paliativos de Ourense que não está “tão exposto”.

Após já ter recebido formação, o flaviense manifesta-se ainda pronto para ajudar caso seja chamado para o combate à Covid-19.

Também Márcia Jesus tem enfrentado nos últimos dias o “transtorno” de passar a fronteira para o trabalho em Espanha, na zona de Verín, num lar de idosos.

A viver em Chaves, mas natural de Murça, também no distrito de Vila Real, a enfermeira desloca-se diariamente percorrendo os cerca de 22 quilómetros que separam as localidades e explica que a maior complicação têm sido os cuidados e precauções necessárias.

“Na fronteira tenho encontrado os mesmos guardas, que já me conhecem, pois desloco-me às mesmas horas. Mas tenho tido todos os cuidados necessários, desde que saio de casa e entro no emprego, para não expor nem contagiar ninguém”, realça.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da Covid-19, infetou mais de 231 mil pessoas em todo o mundo, das quais mais de 9.350 morreram.

Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde (DGS) elevou quinta-feira o número de casos confirmados de infeção para 785, mais 143 do que na quarta-feira.

O número de mortos no país subiu para quatro, com anúncio da morte de uma octogenária em Ovar, feito pelo presidente da Câmara local, horas depois de a DGS ter confirmado a existência de três vítimas mortais até às 24:00 de quarta-feira em Portugal.

Portugal encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de quinta-feira.

O Conselho de Ministros aprovou as medidas que concretizam o estado de emergência, como o “isolamento obrigatório” para doentes com Covid-19 ou que estejam sob vigilância ativa, sob o risco de “crime de desobediência”, a generalização do teletrabalho” para todos os funcionários públicos que o possam fazer, o fecho das Lojas do Cidadão, bem como dos estabelecimentos com atendimento público, com exceção para, entre outros, as mercearias e supermercados, postos de abastecimento de combustível, farmácias e padarias.

O Governo decidiu criar, também, um “gabinete de crise” para lidar com a pandemia da Covid-19, que integra os ministros de Estado, da Administração Interna, da Defesa Nacional e das Infraestruturas.

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