Angola tem alimentos para abastecer o mercado por mais três meses
“Não há razões para entrarmos em pânico, mas sim conscientes de uma situação que requer racionalidade
Angola tem bens e produtos para abastecer o mercado durante pelo menos três meses, mas precisa de reforçar as reservas para não haver escassez, enquanto decorre a pandemia do novo coronavírus, segundo associações empresariais.
A conclusão é dos operadores do sector do comércio angolano, que participaram hoje em Luanda numa reunião com o ministro do Comércio, para analisar a previsão de ‘stock’ existente para o abastecimento alimentar e elaborar um plano de contingência alimentar devido à doença Covid-19.
O presidente da Associação de Empresas de Comércio e Distribuição Moderna de Angola (Ecodima), Raul Mateus, disse após o encontro que a reserva interna é bastante satisfatória para um trimestre, mas é necessário um reforço.
Além do reforço de ‘stock’, Raul Mateus defendeu a necessidade de se melhorar o sistema administrativo, “para facilitar algumas aquisições mais rapidamente” no sentido de não haver problemas dentro de três meses.
“Mas nesta altura não há défices, as pessoas não têm de se alarmar, porque as superfícies comerciais têm produtos, a central de logística ainda tem produtos”, adiantou o presidente da Ecodima, pedindo que não haja “precipitação” que pode “levar ao caos”.
Raul Mateus frisou que há 100% de produção nacional para as bebidas, 90% para os tubérculos, 100% para frutas e legumes, tendo igualmente chegado ao país navios com matéria-prima para as indústrias de farinha e de fuba (farinha) de milho.
Questionado sobre se o país tem assegurada a cadeia de abastecimento de produtos importados, nomeadamente da China e Portugal, que lideram as exportações para Angola e estão afectados pela pandemia, o empresário referiu que o setor alimentar não parou de produzir.
O líder associativo admitiu a retenção de alguns navios na China, devido à Covid-19, mas adiantou que a situação não tem causado grandes constrangimentos.
“Ainda estamos a tempo, temos é que liberar alguns processos que temos pendentes para licenciamento, a fim de fazermos algumas aquisições que venham a salvaguardar mais três meses para a frente. Por agora temos três meses garantidos sem problemas nenhuns”, reforçou.
Por sua vez, o presidente da Associação Industrial de Angola (AIA), José Severino, defendeu uma cooperação regional maior, sobretudo com a África do Sul, que tem uma capacidade de oferta muito grande, tendo em conta a crise do novo coronavírus.
“Estamos com a crise do novo coronavírus e os mercados internacionais vão-se fechando e temos que nos virar sobremaneira para aquilo que são as relações aqui na região, particularmente África do Sul e Zâmbia, e também muito para a nossa produção interna”, advogou.
José Severino comentou que a eventual diminuição da entrada de produtos nos portos do país deve-se às mudanças que o sistema portuário regista.
“Hoje o sistema portuário é muito mais rápido e as mercadorias estão a sair directamente dos navios para os camiões, já não há aquelas massivas ‘stockagens’ quando tínhamos o petróleo a 120, 130 (dólares), não se assustem com esta situação”, afirmou.
O presidente da AIA explicou que o encontro serviu igualmente para uma discussão de convergência das acções do executivo com os parceiros sociais, para garantir que o mercado, apesar de algumas debilidades, terá estabilidade.
“Não há razões para entrarmos em pânico, mas sim conscientes de uma situação que requer racionalidade, em que os nossos ‘stocks’ têm que ser mantidos, mas temos que tratar de algumas soluções, por exemplo, o escoamento dos produtos no campo”, apontou.
O dirigente da AIA realçou que as reservas atuais dão para 120 dias e que as importações vão continuar.