Passageiros de Portugal queixam-se de “tratamento desumano” no aeroporto de Luanda
Passageiros que chegaram hoje a Luanda, provenientes do Porto e Lisboa, queixam-se de tratamento desumano e discriminatório no aeroporto internacional 4 de Fevereiro, ao serem submetidos a mais de quatro horas de espera, sob suspeitas de contaminação pela Covid-19.
Depois de uma viagem, que consideram tranquila, os mais de 200 passageiros ao chegaram em Luanda, dizem que foram sujeitos a condições deploráveis enquanto esperavam por ordens para transferência para o centro de quarentena de Calumbo, município angolano de Viana.
Os passageiros contaram episódios de desmaios, choros de crianças devido a sede e fome, enquanto esperavam orientações para transferência, referindo que se verificaram “tumultos” quando se aperceberam que “apenas alguns” seriam submetidos à quarentena obrigatória.
“A viagem foi tranquila, tirando a confusão aqui instalada no aeroporto internacional 4 de Fevereiro, com tumultos que houve, a separação de tratamento, foi horrível e extremamente desumano”, disse à Lusa António Massango, que veio de Lisboa.
Segundo o funcionário bancário angolano, os passageiros acabaram por não ser obrigados a quarentena, como previamente anunciado em Lisboa: “Quando chegamos cá, algumas individualidades foram excluídas da quarentena”, relatou.
Então, adiantou, “isso causou algum tumulto, porque era suposto que a quarentena fosse para todos e não para uns”, acrescentando que “depois de uma confusão e humilhação, com fome, sede, crianças, teve pessoas que desmaiaram, as pessoas foram liberadas”.
Um “termo de responsabilidade” foi assinado por cada passageiro, com orientações das autoridades angolanas afetas à Comissão Interministerial de Controlo à Pandemia da Covid-19 para que os mesmos façam quarentena domiciliar durante 14 dias.
“Indignada” com o cenário “tumultuoso” registado hoje no aeroporto internacional 4 de Fevereiro, em Luanda, também esteve a angolana Emanuela Van-Dúnem, que chegou a Luanda as 05:00, proveniente do Porto, considerando que foi uma “pouca-vergonha”.
“Quando chegámos a terra fomos maltratados como se fôssemos animais com vírus. (...) Meteram-nos todos encafuados e muitos até pararam de usar máscaras porque eram hipertensos”, desabafou.
A arquiteta angolana, que questiona as medidas sanitárias do país para receção de voos provenientes de países que registam casos positivos do novo coronavírus, lamentou igualmente as “condições deploráveis” em que muitas crianças se encontravam.
“Passamos por um rastreio, mas quando ficamos à porta do desembarque disseram-nos que não entraríamos, porque iríamos para o Calumbo, foram mais de sete horas sem água, crianças maltratadas, ali não se podia respirar”, atirou.
Já Albertina Tomás, passageira angolana proveniente da cidade do Porto, deplorou igualmente a situação, referindo que terão de cumprir quarentena em casa, porque no centro de Calumbo “não há condições de alojamento para tanta gente”.
Para a profissional de comunicação e marketing que tem ainda na memória as “lastimáveis condições” enfrentadas no aeroporto 4 de Fevereiro, no local os passageiros “pareciam apátridas”.
Por sua vez, o português Bruno Vieira, que veio do Porto, narrou também os constrangimentos vividos, afirmando que foram colocados num autocarro em condições impróprias, enquanto aguardavam ordens das autoridades.
O técnico de hidráulica, que também assinou termo de responsabilidade, não acredita no cumprimento da quarentena obrigatória em casa.
“Penso que esta medida de quarentena obrigatória ninguém vai cumprir, as [pessoas] mais medrosas poderão cumprir, mas outras vão trabalhar”, atirou.
Angola, sem registos de casos confirmados, desenvolve planos de contingência e medidas de controlo nos principais pontos de entrada do país e decretou, a partir de 03 de março, a proibição da entrada de cidadãos estrangeiros oriundos da China, Coreia do Sul, Irão, Itália, tendo alargado na terça-feira para Portugal, Espanha e França com quarentena obrigatória.
O coronavírus responsável pela pandemia da Covid-19 infetou mais de 194 mil pessoas, das quais mais de 7.800 morreram. Das pessoas infetadas em todo o mundo, mais de 75 mil recuperaram da doença.
Depois da China, que regista a maioria dos casos, a Europa tornou-se o epicentro da pandemia, com mais 67 mil infetados e pelo menos 2.684 mortos.
Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde (DGS) elevou quarta-feira o número de casos confirmados de infeção para 642, mais 194 do que na terça-feira. O número de mortos no país subiu para dois.