Morreu artista e fundador de Throbbing Gristle Genesis P-Orridge
O cofundador do colectivo britânico Throbbing Gristle Genesis P-Orridge morreu, no sábado, aos 70 anos, mais de dois anos depois de lhe ter sido diagnosticada uma leucemia, anunciaram as filhas, citadas pelos ‘media’ britânicos.
Nome fundamental da música experimental e industrial da segunda metade do século XX, o artista nascido Neil Megson, em 1950, recusava uma visão binária do género e dizia-se em “guerra total” com a cultura vigente desde o começo da sua carreira, em 1968. Um ano depois criou o conjunto COUM Transmissions com a então companheira Cosey Fanni Tutti.
As atuações da dupla eram “caóticas, sem harmonia, sem ensaios” e, como recorda o jornal The Guardian, chegaram a cantar preventivamente “Off, Off, Off” (”Fora, fora, fora”), num concerto em que abriram para Hawkwind, já a contar com uma resposta negativa do público.
Em palco, os espetáculos chegavam a envolver sexo explícito, masturbação e automutilação, bem como confrontos violentos com o público, o que levou a que políticos conservadores os classificassem de “destruidores da civilização”, lembra a BBC.
Em 1975, P-Orridge e Tutti fundaram Throbbing Gristle, numa altura em que já contavam com a atenção de pessoas como o radialista John Peel, responsável pela divulgação de inúmeros nomes da música extrema no Reino Unido e fora dele.
O disco de estreia chegou dois anos depois, com o título “The Second Annual Report”, lançado pela editora Industrial, a que é atribuída a responsabilidade pelo nome do género musical que daí adveio.
O jornalista Simon Reynolds, autor de um livro que traça a história do pós-punk, descrevia o punk como “manso” em comparação a Throbbing Gristle.
Numa entrevista à New Yorker, em 2012, P-Orridge simplificava o processo criativo do grupo: “Os ‘punk-rockers’ diziam para aprender três notas e formar uma banda. Nós pensámos para quê aprender qualquer nota? Queríamos fazer música como a Ford fazia carros. Música industrial para pessoas industriais”.
Em 1981, depois do fim de Gristle, P-Orridge criou uma nova dupla, Psychic TV, agora com Alex Fergusson, dos Alternative TV.
O Guardian lembra que as relações entre os membros de Throbbing Gristle (que incluíam também Chris Carter e Peter Christopherson) eram mais do que atribuladas: na autobiografia de Cosey Fanni Tutti, a artista acusa P-Orridge de a ter tentado matar, com uma faca e com um tijolo, para além de ser física e mentalmente agressivo. Genesis P-Orridge recusou as acusações.
P-Orridge era, nas palavras de Tutti, “um brincalhão carismático com uma tendência intelectual e uma grande frase ao dizer às pessoas que precisavam de aceder e ser as suas verdadeiras personalidades -- ao mesmo tempo que não praticava o que pregava”.
Alvo de exposições em Nova Iorque, para onde se tinha mudado, poucos anos antes de morrer, modelo do ‘designer’ Marc Jacobs (que descreveu P-Orridge como a “definição de realidade e autenticidade”), o New Musical Express salienta que Genesis P-Orridge foi “tão autêntico e intransigente” quanto seria concebível.