Carlos Pereira escreve ‘carta aberta’ a Costa e Marcelo para que percebam a situação da Madeira face à pandemia
O deputado do PS-M na Assembleia da República Carlos Pereira publicou, na sua página no facebook, uma carta aberta dirigida ao Presidente da República e ao primeiro-ministro em que apela à compreensão para a situação de particular fragilidade em que a Madeira se encontra face à pandemia de Covid-19.
“Senhor Presidente da República
Senhor Primeiro Ministro
Os tempos são muito complexos e extraordinários que acabam por apelar à nossa capacidade de resiliência mas também à nossa objectividade. Vivemos dias que nunca imaginamos possível nos nossos mais profundos pensamentos mas precisamos sentir um país solidário, compreensível e consequente com os anseios de todos os portugueses, de todo o lado e em qualquer circunstância . Nunca como agora queremos tanto que o país se erga robusto, esguio mas firme na protecção dos seus cidadãos . De todos os portugueses, em qualquer sítio deste Portugal, que quando canta arrepia a pele dura, mole , escura ou clara mas sempre “pela pátria lutar contra os canhões marchar, marchar “. Somos todos assim, estejamos onde estivermos, fora do país ou em qualquer dos locais deste rectângulo que cresce na alma de qualquer português. Em boa verdade, nunca deixamos de acreditar que em cada um de nós há um bocadinho deste país de Afonso Henriques o conquistador . Temos sangue na guelra e nunca baixamos os braços para proteger os nossos. Os portugueses da Madeira também são assim. E assumem-se representantes dessa raça portuguesa que não larga os entes queridos , os amigos, os outros, os nossos. Estão confinados a um rochedo no meio do Oceano e unem-se sempre no mesmo espírito português para que, todos juntos, possamos afirmar Portugal no Atlântico e sublinharmos a Madeirinidade que há em cada um de nós. Não abdicamos de um pelo outro, apenas alimentamos um com o outro.
Não há momentos bons para lembrar tudo isto mas há oportunidades incontornáveis para sublinhar que estamos cá para o que der e vier e que estamos prontos para fazer a nossa parte. Para declarar uma guerra sem tréguas ao inimigo que desconhecemos mas que não queremos recear. À ameaça que pressentimos mas que não vislumbramos. Esse movimento que arrasta os madeirenses é pela nossa sobrevivência. Pela sobrevivência do país. Estamos de mãos dadas com todos os portugueses, não tenhamos dúvidas, mas também abraçados entre nós e dentro da ilha. Unidos pelo sangue que nos arrastou até aqui e que faz de nós ilhéus de corpo inteiro.
As regiões autónomas são ecossistemas frágeis, distantes dos centros de decisão e, por isso, sofrem com tudo o que o isolamento acarreta, incluindo as dificuldades adicionais de lutar contra fenómenos externos ou situações críticas para com o equilíbrio social e económico. A ameaça do Coronavirus assume nestas regiões preocupações suplementares que temos perfeita consciência. Estamos empenhados contra esse mal. Não sabemos sequer até onde podemos travar essa maldita coisa que mergulhou abruptamente no nosso quotidiano. Mas queremos tentar tudo. Fazer tudo para evitar menos sofrimento, menos dor, mais esperança e também mais confiança .
Só precisamos que compreendam isto. Mais nada do que isto, porque, em boa verdade, ainda não paramos um segundo sequer para ler a nossa constituição mas, mesmo assim, temos a certeza que ela foi pensada para que todos os portugueses de carne e osso se sintam sempre livres de lutar pela vida.
Estamos juntos.”