A Espiritualidade como valor maior na orientação política
O modo acelerado e desligado como se vive nos dias de hoje, contribui fatalmente para o nosso afastamento do meio que nos rodeia e ao qual pertencemos, alterando a nossa relação com a nossa essência espiritual de seres conectados uns com os outros e com a natureza. A certa altura da aventura humana, separou-se e bem a política da religião, já que em qualquer dessas atividades sendo o poder é imanente, dificilmente poderia resultar no fazer bem sem olhar a quem, ou seja, promover o bem-comum. De quando em vez, surgem, no entanto, algumas personalidades que nos inspiram a olhar para a necessidade da inclusão da espiritualidade na política, como grandes pensadores como Sócrates, Platão, Aristóteles ou até Spinoza, assim como Mahatma Ghandi, Martin Luther King jr, entre outros. Para a esmagadora maioria das pessoas, a política nada tem a ver com a espiritualidade, relacionando-a com uma fé que tem exclusiva comunicação com Deus ou com Deuses. Deste modo, a política é remetida para o terreno onde o exercício do poder é soberano, sendo exercido de forma fundamentalmente racional, não abordando a gestão da sociedade como um exercício espiritual, mas antes como uma gestão de bens materiais públicos. Ora ao separar-se a espiritualidade da vida real, a política fica inevitavelmente fragilizada, sendo as eleições, por exemplo, apenas um ritual político, repetido em ciclos pré-estabelecidos, quando os compromissos políticos vão muito além dos atos eleitorais. A espiritualidade é assim remetida para o mundo religioso, que a mantém prisioneira, aí ficando reduzida a uma ínfima parte da sua real grandeza, não se expressando como é sua função, em todos os domínios da vida e não apenas no campo religioso. E na realidade, a vida não é fragmentada em compartimentos separados, mas antes um conjunto imenso de interligações e interdependências. Será sempre incompleto, qualquer sistema político ou ideologia que não enfrente os grandes problemas da humanidade de forma integral e transpessoal. O anúncio de reformas políticas anunciadas por governos, é insuficiente se não forem acompanhadas de uma perspetiva espiritual laica, pois só através desta se poderá claramente vir a constatar que a justiça social só será uma realidade se a sociedade se unir em proveito da sua evolução espiritual, seja individual ou coletivamente. Encetar esse trajeto, significa o caminhar para o atingir de uma compreensão maior, que está para além de conjeturas opinativas ou crenças religiosas e possibilita olhar a realidade para além do acessório, colocando a realidade material num nível razoável, em lugar de objetivo primeiro. A espiritualidade é um instrumento que permite desafiar a predominância do pensamento tecnocrático, pois uma vez percebido que o sagrado e a transcendência não são domínio exclusivo da religião, torna-se óbvio que devem representar uma parte maior da vida política. O exercício da política é assim uma exigência espiritual.