Muda o vírus e toca o mesmo?
Que é como quem diz: “se a vida te der uma crise e/ou uma pandemia, vai à praia!!”
Em 2008 um “vírus” com origem nos EUA afectou o sistema financeiro mundial, causando um terramoto cujas réplicas se fizeram sentir por toda a Europa e, claro está, em Portugal, neste caso, com especial incidência entre 2010 e 2014. As causas e os efeitos desta “pandemia” financeira, as baixas que a mesma causou e as curas que foram implementadas para a debelar – apesar de ainda não poderem ser interpretadas com a independência que só o distanciamento temporal e político proporcionam – são sobejamente conhecidas.
Em 2020 um vírus com origem na China está a gerar um gravíssimo problema de saúde pública, que, de acordo com os alertas do Banco Central Europeu, poderão causar uma crise económico-financeira de proporções idênticas à de 2008.
Ainda que os efeitos destas 2 crises possam vir a ser semelhantes, os sintomas e canais de propagação das mesmas são diferentes. Com efeito, a crise de 2008 foi “incubada” no sistema financeiro e afectou, em primeiro lugar, os Bancos. Em seguida, contagiou os Estados, tornando-se numa crise das dívidas públicas, e, por último, as empresas e os particulares, causando uma profunda recessão económica.
Pelo contrário, a crise que ora se anuncia, a consumar-se, começará pela economia, designadamente pelas empresas e pelos empresários, que serão os primeiros a ressentir-se da abrupta quebra de receitas e das dificuldades de tesouraria decorrentes das restrições ao desenvolvimento da actividade económica. Os particulares, os Estados e os Bancos – eventualmente por esta ordem – sentirão, obviamente, as consequências, tais como, despedimentos e lay-offs, diminuição da receita fiscal, aumento da despesa pública e incumprimento de créditos.
Refira-se que, ainda que a pandemia venha – como se espera – a ser clinicamente controlada, os efeitos económicos da mesma afiguram-se (já) inevitáveis, não dependendo da cura que possa, ou não, vir a ser encontrada para o vírus. E Portugal não fugirá, certamente, à regra.
No entanto, fruto da experiência adquirida com a crise de 2010 e 2014, e das relevantes e extensas reformas estruturais implementadas, parece que há quem acredite que o nosso país está hoje bem/melhor preparado para minimizar os efeitos desta nova crise.
Na verdade, o tecido económico nacional transfigurou-se, tendo os sectores primário e secundário assumido uma maior (e mais equilibrada) preponderância relativamente ao sector terciário. Assim, a economia nacional já não está tão dependente do Turismo, nem do investimento externo e/ou das remessas externas, quer seja por/de estrangeiros, quer seja por/de emigrantes.
De igual forma, com a reposição do horário semanal reduzido de 35 horas na função pública e a contratação de boys e membros da família “em barda”, a produtividade e a qualidade dos serviços públicos aumentou significativamente, destacando-se, desde logo e com particular relevância para o caso, o excelente desempenho do sector da saúde.
Por último, fruto da brutal descida de impostos que foi promovida pelos governos da geringonça, existe hoje, claramente, uma “folga” para aumentar os impostos e a receita fiscal, o que permitirá controlar o défice público sem sobrecarregar excessivamente das empresas e os particulares e/ou a retracção da actividade económica.
E alguns Portugueses acreditam tanto (ou não) no que escrevi nos 3 parágrafos que antecedem, que decidiram antecipar a abertura da época balnear, que, pelo menos em Cascais/Carcavelos, passou a coincidir com o dia em que foi oficialmente declarado o estado de pandemia.
Que é como quem diz: “se a vida te der uma crise e/ou uma pandemia, vai à praia!!”