Keir Starmer favorito à liderança Trabalhista tem desafio “brutal” pela frente
A três semanas do fim das eleições, a politóloga portuguesa Eunice Goes acredita que Keir Starmer deverá ganhar a liderança do Partido Trabalhista britânico, mas pela frente tem um desafio “brutal” para restabelecer o ‘Labour’.
“A sensação é a de que eleição está decidida a favor de Keir Starmer”, disse a antiga jornalista portuguesa, atualmente professora de ciência política na Universidade de Richmond, em Londres.
Na sondagem mais recente, realizada no final de fevereiro, Keir Starmer destacava-se nas preferências dos militantes, com 53% das intenções de voto, uma grande vantagem face aos 31% de Rebecca Long-Bailey e 16% de Lisa Nandy.
“Rebecca Long-Bailey tem a desvantagem de ser considerada a herdeira e estar associada a Corbyn. Tem o apoio do aparelho, mas não dos militantes. Lisa Nandy fez uma campanha muito boa, bastante sólida e tem apoios importantes nos meios de comunicação social que ajudaram a projetar a mensagem”, analisou Goes.
Porém, acrescentou, Keir Starmer conseguiu não só o apoio da maioria dos deputados, mas também de sindicatos poderosos, como o Unison e o TSSA, e de várias fações de esquerda pró-europeias dentro do partido, o que torna mais provável a vitória.
“Ele é o candidato da unidade”, resume a autora do livro “O Partido Trabalhista sob Ed Miliband: Tentando mas Falhando a Renovação da Democracia Social”.
Iniciada em meados de janeiro, um mês depois das eleições legislativas que representaram o pior resultado do Partido Trabalhista desde 1935, ao eleger apenas 203 deputados, a campanha foi “aborrecida, nada excitante”.
Os três candidatos concordaram em temas como o investimento nos serviços públicos, políticas ambientais, defesa dos direitos laborais, combate ao anti-semitismo dentro do ‘Labour’ e liberdade de circulação europeia pós-Brexit, à qual o governo de Boris Johnson quer pôr fim em 2021 com um novo sistema de imigração.
Sobre o anterior líder, Starmer elogiou o “radicalismo” e a “rejeição da austeridade”, Long-Bailey avaliou Corbyn com “10 [valores] numa escala de 10”, enquanto Nandy foi mais crítica, responsabilizando a estratégia do partido para o Brexit e o programa eleitoral de falta de credibilidade.
Porém, segundo Goes, os candidatos foram “bastante vagos sobre políticas concretas, sem se comprometerem com propostas tendo em conta os próximos cinco anos na oposição”.
Após meses de turbulência política, que resultaram numa maioria absoluta do partido Conservador graças aos votos de eleitores em regiões tradicionalmente trabalhistas, nomeadamente do nordeste de Inglaterra, o partido deixou de representar a classe operária e ganhou eleitores na classe média alta urbana e entre jovens universitários.
A prioridade do próximo líder não será apresentar propostas, acredita, mas proceder a uma revisão das políticas, procurando “perceber o que o eleitorado quer”, mantendo um equilíbrio entre reter campanhas atuais, como da defesa dos trabalhadores precários e independentes, e recuperar temas do ‘New Labour’, como o do combate à criminalidade juntamente com o combate às respetivas causas, que “são transversais à sociedade”.
“O Partido Trabalhista tem pela frente um trabalho brutal para recuperar do facciosismo. Precisa de ter maior disciplina e uma mensagem mais coerente. Mas será difícil ganhar as próximas eleições”, concluiu a analista portuguesa.