O coronavírus e os jovens finalistas...
Universidades e escolas encerradas, eventos nacionais e internacionais cancelados, visitas a hospitais, lares e prisões suspensas... Até o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, vai ficar de quarentena durante duas semanas, apesar de não ter sintomas de COVID-19. E o que é que se faz relativamente às viagens de finalistas? Deixa-se ao critério dos finalistas. Porquê?! Porque é a viagem de sonho deles... Eu sei que para muitos o alarme em torno desta epidemia é exagerado, porque, de acordo com as estatísticas, uma gripe “normal” mata mais do que o «coronavírus», mas se o alarme está instalado e algumas medidas estão a ser aplicadas pelo Governo, não me parece sensato nem coerente deixar nas mãos dos jovens finalistas a decisão de irem de férias para um dos países mais afetados do mundo pelo COVID-19, o segundo mais afetado da Europa. – Ah e tal, é a nossa viagem de sonho. Nós esperamos por este momento há anos... Pois, fazer dezoito anos, tirarem carta de condução, comprarem um carro e fazerem corridas nas estradas e pontes a mais de 200 km/hora também é o sonho de muitos jovens, mas não é por isso que devemos deixar que estes sonhos se realizem, porque põem em risco a vida de todos os outros que também circulam nestas estradas e pontes. É exatamente o mesmo convosco, jovens finalistas. O problema não é vocês realizarem a vossa viagem de sonho para um lugar onde abunda «coronavírus». O problema é vocês irem, serem infetados, não morrerem com o vírus porque são jovens e regressarem a Portugal infetados para infetarem os que cá estão. Além dos mais, se o vosso sonho resume-se a beber até ir parar a um hospital em coma alcoólico, não precisam de gastar tanto dinheiro com esta «viagem de sonho». Vão ao supermercado, comprem uma garrafa de Vodka e ponham à boca. Não só não correm um risco tão grande de apanhar «coronavírus» – nem outro vírus bem mais grave, que podem muito bem apanhar numa viagem de finalistas – como podem receber as visitas dos vossos papás e mamás a qualquer momento, que são sempre muito agradáveis quando se está de ressaca. – Ah e tal, mas toda a gente sabe que o coronavírus só mata os velhinhos... O quê?! Só mata velhinhos? Porra, só podem estar a gozar comigo... Então e aqueles cartazes que vocês tanto exibiram, aquando da discussão em torno da despenalização da eutanásia, a dizerem «não matem os velhinhos»? Era mesmo só ignorância ou se for para despenalizar a eutanásia «não matem os velhinhos», mas se for para o coronavírus pôr em causa a vossa viagem de finalistas «deixem os velhinhos morrer»? Não têm avós?! Os vossos pais são assim tão novos?! E os pais e avós dos outros, não vos interessam?! Não perceberam ainda que o problema não é vocês serem infetados e morrerem. O problema é exatamente o contrário: é vocês serem infetados e não morrerem. Não morrem porque ainda são novos, mas trazem o vírus para Portugal para infetarem aqueles que são mais velhos e que acabam por morrer. Eu sei que, com a quantidade de álcool que vocês consomem nesta viagem, muito dificilmente o «coronavírus» conseguirá sobreviver dentro do vosso corpo por muito tempo, mas, ainda assim, parece-me demasiada leviandade para um assunto tão sério. E a culpa não é a vossa. A culpa é de quem ainda não vos proibiu de ir. «Talvez fosse recomendável evitar-se viagens de finalistas na Páscoa para países onde há casos conhecidos de infeção ou para fora de Portugal.» – palavras de António Costa. Recomendável?!... Recomendável não, proibido. Esta é a palavra que deveria constar naquela afirmação: PROI-BI-DO. Eu sei que em Portugal já não se vive numa ditadura, mas, num Estado de Direito, parece-me correto e oportuno manter o “lema” de que «a liberdade de um cidadão termina quando põe em causa a liberdade de todos os outros». Enfim, pior do que a passividade e irresponsabilidade do Governo, só mesmo o facto de os jovens de hoje serem o futuro de amanhã, um futuro onde eu já serei velhinho!
Renato Marques