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“Nem do PSD, nem do CDS”

O CDS no governo é como ter um jogador verdadeiramentE nacionalista a jogar pelo Marítimo. Está em campo mas joga contra

O que nasce torto tem muita dificuldade em endireitar. E a falta de jeito é atributo que não se conquista. Ou se tem ou não.

Indo direito ao que interessa, estou completamente arrasado com a declaração do dr. Rui Barreto, líder do CDS, de que o futuro director clínico do SESARAM tem de ser neutro, ou seja, não será do PSD nem do CDS. O disparate em estereofónico.

Tudo isto ficou pior do que “antes” foi. Era de prever.

Afinal o CDS não é uma ajuda. Empata, complica, baralha ... e tenta fazer de sapo que quer ser boi.

O CDS apenas dá maioria ao PSD: é como ter um jogador verdadeiramente nacionalista a jogar pelo Marítimo. Está em campo mas joga contra.

O CDS fala como se fosse responsável pelo governo, cabendo-lhe orientar a participação do PSD no mesmo. Miguel Albuquerque ficou a saber pelo líder do CDS, seu secretário regional, os limites da sua escolha. Não é a competência, dinâmica, bom senso, aceitação no meio e inteligência que deve ser apreciada na sua seleção. Nada disso. O fundamental é ser partidariamente neutro, no seu entender não ser nem do PSD nem do CDS. Ficou por esclarecer se é neutro em relação aos dois partidos do governo e se poderá ser do Chega ou da Iniciativa Liberal, sendo presumível que não é aceitável representante da geringonça.

É óbvio que não pode ser do CDS, porque todas as suas opções se esgotaram nas duas primeiras soluções, mas já não poder ser do PSD é atoarda absurda e inaceitável. Tipo birra: já que não é do CDS também não deixo que seja do PSD.

E o PSD ficou a saber pelo dr. Rui Barreto que o novo director clínico tem de ser neutro. Ou seja, jamais poderá ter ido a reunião do PSD, subido à festa laranja do Chão da Lagoa, aplaudido qualquer secretário regional da saúde e provavelmente privar com Pedro Ramos. Terá de ter vivido estes anos noutro planeta qualquer.

O histórico das nomeações, feitas pelos governos do PSD, dos sucessivos directores clínicos é até um excelente exemplo de escolha de médicos com aceitação geral e sempre com reconhecida competência. Alguns filiados no PSD, outros que nunca o foram e até alguns de quem se suspeitou conviverem em meios críticos, e mesmo de oposição, à governação. Todas as sucessivas propostas do SESARAM tiveram provimento, mesmo quando foram sugeridos mais do que uma alternativa para escolha do governo. É uma função que, pela sua responsabilidade, ninguém se atreveu a dar palpites partidários.

Alberto João Jardim terá até dito, no seu melhor: “com os médicos (ou terá sido saúde) não me meto”.

Chegados aqui, quatro meses de coligação PSD/CDS, verificamos que o minúsculo parceiro de governo ainda não parou de interferir na nomeação de cargos para o que parece ser insaciável.

É preciso pôr ordem: a saúde está a cargo de Pedro Ramos e cabe a este, e a mais ninguém, as escolhas para dirigir os diferentes estruturas e serviços. É inaceitável um colega da economia debitar regras sobre a nomeação de outra área de trabalho.

Imagino o tempo já perdido, por quem governa, com este impasse. As conjunturas, os cenários, as alternativas, etc. Provavelmente deram mais tempo a todo este disparatado imbróglio que ao coronavirus.

E pelo tempo que passou, até à nomeação do director clínico, percebe-se haver uma verdadeira dificuldade neste caso. Uma decisão política nunca pode levar tanto tempo sem acusar fragilidades e pouca clareza.

Aliás, agora percebe-se a dança recente de nomeações com directores a saltarem de um lado para outro como se fossem de uma extraordinária e versátil competência para qualquer tipo de sector. Para onde o CDS apontou, quem estava lá saltou.

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