“Silêncio na língua e vergonha na cara”
Esta citação é atribuída ao filósofo Sócrates (século V. A.C.), que escreveu: “Há três coisas que os Homens precisam: prudência no ânimo, silencio na língua e vergonha na cara”.
Sem qualquer desprimor pelo filósofo, e ao gosto do bando de “pardais da teorização” contratados pela propaganda social-democrata-centrista, a afirmação encaixa a gosto os temas da mobilidade aérea e marítima, do anterior e atual titular dessas pastas.
Mas vejamos as três fases, que podem sustentar a eloquência do pensamento socrático, e a falta de sustentabilidade emocional e estrutural do ser-governante.
A “Prudência no ânimo”
Corria o ano de 2017, e o então senhor secretário regional Eduardo Jesus estava possante no ânimo e desgarrado na língua. A euforia do então “renovadinho” motivou o seguinte título, entre aspas em manchete: “Guerra do Grupo Sousa é sinal que os tempos mudaram” (DN, 5 de Outubro de 2017), a propósito a revogação da licença da operação portuária.
Tempos antes, a 4 de Julho de 2017 carimbava, igualmente, o ar destemido. Em plenário da Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira, afirmara perentoriamente o impedimento do Grupo Sousa no concurso à linha ferry: “Queria também informá-lo de que a Autoridade da Concorrência que referiu, foi a mesma Autoridade da Concorrência que deixou bem claro que relativamente à concentração de operações que foi conseguido com a última aquisição do grupo que opera aqui na Madeira, estão impedidos de concorrer à linha ferry que estamos nós a estabelecer com Portugal Continental.”
A carenciada prudência no ânimo levou ao desfecho conhecido: “Eu não me demiti, fui dispensado”, afirmou em Outubro de 2017 (DN, 11/11/2017).
A saída ou a “promoção” do cargo de executivo a deliberativo, com promessas de integração na governação de posterior governo (o que veio a se confirmar em setembro de 2019), foi, naturalmente, estratégica. O governo PSD e a atual coligação está nas mãos dos grupos económicos. O facto de, agora, lhe terem sido retiradas as competências nos transportes marítimos e entregues à Vice-presidência diz, basicamente, tudo. Com muito silêncio cúmplice do burgo.
O “silêncio na língua”
A mobilidade área foi outra trapalhada da alçada da sua Secretaria, com apoio de uma dupla de neoliberais adeptos do mercado aberto, travestidos de sociais-democratas (Miguel Albuquerque e Passos Coelho). Em Agosto de 2015, lê-se num comunicado da comissão política do PSD: “O novo subsídio de mobilidade nas viagens aéreas será uma realidade a partir de 1 de Setembro e irá possibilitar a todos os madeirenses, e em particular aos estudantes, viagens mais baratas do que aquelas que atualmente vigoram. O novo modelo, recorde-se, permitirá viagens a 65 euros para os estudantes e 86 euros para os residentes.” Anunciava-se o “Eldorado” para as famílias e para as empresas.
E ainda, Eduardo Jesus anunciava a boa-nova: “fica mais barato os residentes da Madeira viajarem para o continente e os Açores”, passando as passagens a custar 86 euros para os madeirenses e 65 euros para os estudantes. (JN, 25 de agosto de 2015). Esqueceu-se de dizer que os madeirenses tinham de adiantar o valor total das passagens.
De “trapalhada política” e de “cópia defeituosa do sistema açoriano” (Miguel de Sousa, DN, 31/03/2018), foi preciso a ANAC (Autoridade Nacional da Aviação Civil) e o Provedor de Justiça considerarem que a propaganda governamental estava errada: o novo subsídio social de mobilidade “motivou a concentração das viagens em escalões de valores significativamente superiores aos verificados no anterior modelo” (ANAC, 2017). O teto máximo convidou à subida dos preços das tarifas.
“Vergonha na cara”
Numa recente entrevista (JM, fevereiro de 2020) referiu-se o governante à “vergonha” pessoal perante o estabelecimento da taxa turística em Santa Cruz. De vergonha em vergonha, de trapalhada em trapalhada, de golpada em golpada, de negociata em negociata, de incompetência em incompetência, o atributo da vergonha é sempre canalizado para ação de terceiros. Nunca para a “aselhice” da sua pena, da sua ação pessoal em casa-própria.
Recorde-se, por exemplo, que entre 2015 até à sua saída em 2017, gastou 1,1 milhões de euros em sociedades de advogados (700 mil das quais, apenas, numa sociedade); mais de 200 mil euros em estudos, incluído um sobre as taxas turísticas; 171 mil euros no Museu do Automóvel Clássico (com arranjos de viaturas, sabe-se lá com que critérios); mais de 57 mil euros em formação pessoal e coaching e 46 mil euros enterrados no Brava Valley.