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O zero e o infinito

Assim se chamava o livro de Arthur Koestler, publicado em 1941, um libelo contra o totalitarismo, e que na época levantou grande celeuma. O grande tema era o apagamento do indivíduo (reduzido a zero) perante a magnitude da causa (representada pelo Partido).

No polo politicamente oposto, e na mesma época, uma delegação da Hitlerjugend (Juventude Hitleriana) visitou Portugal e, num livro de visitas, o chefe da delegação escreveu uma frase típica da sua ideologia: “nós não somos nada!” – o suficiente para indignar o próprio Salazar.

Embora nem todos se apercebam disso, estamos no limiar de um período crítico. A ameaça do coronavírus se tornar uma pandemia é real, e obrigará a tomar mediadas restritivas da liberdade individual, como já se vê nas despistagens, quarentenas, internamentos e confinamentos coletivos.

O que se passar na China, origem da doença, será importante para o futuro. Se as medidas restritivas ali tomadas forem eficazes (e parece que estão a ser) não faltará quem atribua os méritos a um governo autocrático, em oposição ao laxismo das Democracias, coniventes, pela sua permissividade, no alastrar da pandemia.

A ameaça não se reduz apenas a vidas humanas. A economia global já dá mostras de perturbações, e os efeitos de uma recessão são previsíveis.

A Madeira tem perdido com algumas crises, e ganho com outras. Perde sempre que há recessão, como no caso das duas Guerras Mundiais. Mas ganhou com a instabilidade no Mediterrâneo, oferecendo, em alternativa, um oásis de paz. Como salvou os hotéis com refugiados gibraltinos.

A fragilidade do arquipélago é endémica, e os sucessivos ciclos são prova disso. Estamos no ciclo do turismo, e este é o mais sensível à conjuntura internacional.

O recurso tradicional à emigração não parece viável. O caso da Venezuela é o mais visível, e cabe aqui referir que, no “caso TAP”, apenas um deputado europeu se lembrou de invocar as instâncias comunitárias. E membros do regime “bolivariano” atacam os portugueses (leia-se: os madeirenses), dentro da velha lógica de encontrar um inimigo externo para bode expiatório, e apostando, neste caso, no que consideram o elo mais fraco.

Na minha ingenuidade, pensei que a adesão à Comunidade Europeia seria uma forma de sair do “complexo do Calimero” (abusam de mim porque sou pequenino). Eis aqui uma oportunidade de testar a coesão e a solidariedade.

Ou seja, para garantir que não somos o Zero, e a União Europeia o Infinito.

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