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O que aí vem

A prova de que a política é hoje essencialmente um caminho do poder pelo poder e não um serviço e uma missão, está bem patente na forma como os partidos fazem do calendário eleitoral a trave mestra da sua ação.

Com a proximidade das eleições autárquicas, as câmaras que não são da cor política do partido que domina os destinos da Madeira há mais de trinta anos (o que só por si é uma aberração democrática) começam a sentir a pressão e os jogos de bastidores.

Esta pressão faz-se pela discriminação, pela guerra aberta e pelo lançamento de nomes acompanhados por uma narrativa heróica e tendente à construção de ídolos, a maioria com pés de barro.

No caso do PSD, agora em união de facto com o CDS, todas estas estratégias esbarram com duas realidades dissonantes com o propalado sucesso que seria regressarmos, em Santa Cruz, aos mesmos de sempre.

Primeiro, este concelho teve, nos sucessivos autarcas do PSD, os seus piores anos. Todos eles, de alguma forma, levaram Santa Cruz à ruína. Uns fizeram-no por omissão, outros por políticas erradas e outros pela prática ativa de crimes. Ou seja, o PSD não tem propriamente uma herança da qual se possa orgulhar neste concelho.

Além disso, o PSD também não tem propriamente uma herança sem mácula na Região. Os seus governos e a forma como se têm aguentado no poder são sustentados numa teia de interesses, num caciquismo instituído e na ilusão de que só o PSD é capaz de governar. No entanto, e se formos sinceros e lúcidos, há problemas que se mantêm, nomeadamente a ausência de um modelo de desenvolvimento de sucesso, capaz de resolver problemas estruturantes como a mobilidade, a saúde, o emprego.

Mesmo a renovação prometida pela nova liderança do PSD não passou de uma mera ilusão. Continuam lá os tiques, os truques, as pequenas e grandes omissões e, sobretudo, os jogos de interesse que servem uns quantos e esquecem a maioria. Veja-se que um ano depois de tomar posse esta coligação nefasta do PSD com o CDS tem como “obra” mais visível uma corrida ao tacho para servir a clientela partidária dos dois partidos. Nem mesmo um setor importante como o saúde escapa a esta ditadurazinha do lugar para os que têm o cartão de militante da cor certa.

E é esta gente que se apresenta às eleições autárquicas e que anuncia que é preciso voltar a conquistar as câmaras que o PSD perdeu. E eu pergunto para quê? Sim, para quê? No caso de Santa Cruz, será para colher os frutos da recuperação financeira que se fez do descalabro criado pelos sucessivos autarcas social democratas?. Trabalho que foi nosso e que, de forma sustentada e certa, começa a permitir uma política de investimento, um modelo de apoio social, uma nova dinâmica presente nos nossos cartazes de Natal, da Festa da Flor, das Festas do Concelho.

A nós cabe-nos continuar a trabalhar para sedimentar este caminho de responsabilidade e transparência e trabalho. Acima de tudo porque estamos conscientes de que um regresso ao passado seria mau para Santa Cruz e para a democracia na Madeira. Há o perigo real de um regresso às práticas do passado, e a certeza de que a primeira medida seria sentar mais uns quantos da clientela partidária do PSD e do CDS e deixar de ter oposição a uma política que, durante mais de trinta anos, ainda não soube resolver os principais e reais problemas da Madeira.

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