Alterações climáticas ameaçam o mar profundo do Atlântico Norte
As alterações climáticas “ameaçam o mar profundo do Atlântico Norte” e os seus ecossistemas e no futuro o habitat disponível para os peixes e os corais de profundidade ficará “reduzidos significativamente”, alerta um estudo científico.
“As nossas projeções indicam que no futuro o habitat disponível quer para os peixes, quer para os corais de profundidade serão reduzidos significativamente essencialmente na parte sul do Atlântico Norte, onde a região dos Açores está incluída”, afirmou hoje o investigador Telmo Morato, em entrevista à agência Lusa.
Telmo Morato é investigador do Instituto do Mar (IMAR) e do centro OKEANOS da Universidade dos Açores que está vocacionado para o estudo dos recursos vivos marinhos no arquipélago açoriano.
A equipa do Okeanos “lidera o trabalho científico que projeta os impactos das alterações climáticas no habitat disponível para corais de águas frias e peixes de profundidade com interesse comercial”, segundo explicou.
O trabalho, publicado na revista científica internacional Global Change Biology, desenvolveu-se no âmbito dos projetos de financiamento europeu ATLAS e SponGES, cujo objetivo é melhorar o conhecimento dos ecossistemas do mar profundo do Atlântico Norte e apoiar o desenvolvimento de políticas de gestão para o uso sustentável dos oceanos.
“Nós lideramos este trabalho que é composto por 58 investigadores de toda a Europa, incluindo da América do Norte, dos Estados Unidos e do Canadá, onde avaliamos quais estão a ser e quais serão, os impactos das alterações climáticas no mar profundo, nomeadamente naquelas espécies que constroem um habitat, como por exemplo, os corais de profundidade, mas também nas espécies de peixe, em algumas com interesse comercial”, explicou.
Segundo o trabalho científico, “as tendências atuais das mudanças climáticas poderão colocar em risco mais de 50% do habitat de corais de águas frias do Atlântico Norte, enquanto o habitat disponível para peixes de profundidade com interesse comercial poderá mudar até 1000 km para norte. Estas projeções podem afetar significativamente o setor pesqueiro e as comunidades que dependem dessas espécies”.
As projeções apontam para “uma diminuição significativa do habitat disponível para corais de águas frias e uma acentuada deslocação do habitat de peixes de profundidade para norte”.
A região dos Açores está incluída no estudo “e grande parte das projeções que são feitas para o Atlântico Norte aplicam-se também ao arquipélago, nomeadamente esta migração para norte das espécies de peixe e a redução do habitat disponível para muitas espécies de corais”, referiu ainda o investigador.
“Não quer com isso dizer que se vá perder todo o peixe de interesse comercial nos Açores. O estudo alerta é que ao haver um aumento da temperatura do oceano no mar profundo e do ph, as espécies de corais e de peixes terão tendência de procurar zonas onde o habitat lhes é favorável”, sublinhou o investigador.
Do ponto de vista dos corais, o estudo projeta “uma redução do habitat disponível para estas espécies” devido às alterações climáticas.
“A pesca também tem um impacto grande, mas caso não sejam tomadas medidas para a redução da pegada ecológica, nomeadamente para as emissões de dióxido de carbono para a atmosfera, os oceanos, em geral, e o mar profundo, em particular, serão altamente afetados. E, a verdade é que as alterações climáticas são a maior ameaça para o mar profundo e para as espécies que lá habitam”, alertou o investigador.