Responsabilidade e bom senso
Dispensamos as habituais tricas, espuma analítica e intervenções com ruído e intriga
1. Caminhamos a passos largos para o fim de um ano atípico e castrador, que revolucionou os nossos hábitos, que promoveu o medo do contacto entre as pessoas, que estilhaçou a economia e retirou os turistas das ruas e das mesas de muitos madeirenses, colocando um grande ponto de interrogação em relação ao futuro. De Março para cá tudo foi diferente. Milhões de deslocações foram canceladas, bem como eventos de todo o género e feitio, as comemorações feitas com recato e em número reduzido. O sistema de saúde estremeceu e luta por se manter na frente, com as suas debilidades crónicas mais expostas. Ainda faltam uns dias para as 12 badaladas mais aguardadas, mas a palavra de ordem é manter a guarda elevada, porque o vírus anda por cá, faz-se sentir e a vacina que nos devolve a esperança de um possível regresso à normalidade não vai chegar até nós no início de 2021. Veremos se os critérios já anunciados para a sua aplicação vão ser cumpridos. A covid-19 tem provocado morte, suor e lágrimas. Como demonstra diariamente o boletim epidemiológico, os casos de transmissão local têm vindo a aumentar, exponencialmente, o que demonstra que as regras, propagadas à exaustão, não têm sido observadas. Todos conhecemos a forma como a infecção se propaga, por isso cada um de nós deve assumir a responsabilidade social de não permitir o contágio pela comunidade. Numa época festiva como esta, a tentação de celebrar como sempre fazemos é grande. Mas não o podemos fazer este ano. Sejamos responsáveis e saibamos proteger os que nos são próximos, os mais debilitados e os que fazem parte dos grupos de risco. Não basta saber de cor o protocolo sanitário. Ele tem de ser cumprido. Façamos do Natal uma época de redobrada esperança, compremos as nossas prendas no comércio local, de forma cívica e ordeira, festejemos junto do nosso agregado familiar. Apenas e só. Esta sensação estranha que nos invade a alma e que nos traz o Natal mais insípido para a maioria das gerações, tem de ser secundada pela expectativa de que há uma luz ao fundo do túnel. A incerteza do regresso à normalidade não nos pode toldar a mente, nem precipitar comportamentos de risco. Até porque o bom senso vai imperar com ou sem necessidade de termos, pela primeira vez na história, círculos desenhados no chão, para vermos o fogo-de-artifício.
2. A recuperação económica do País e da Região vai ser lenta, com o previsível aumento do desemprego e de falências de empresas que não aguentam o embate provocado pela pandemia. Sectores como o Turismo, que tanto nos diz ou da aviação vão penar para conseguirem. 2021 será um ano muito difícil. Há empresários com a corda ao pescoço que já antecipam o descalabro para Janeiro. O exemplo narrado por Márcio Nóbrega, no DIÁRIO de ontem, é paradigmático. Tinha sete negócios. Já fechou dois. Diz estar num sufoco gigante e queixa-se da demora na chegada do apoio público. Não tem outra alternativa que não seja despedir colaboradores. A ‘reconstrução’ do tecido económico vai ser a ‘mãe’ de todas as prioridades, a par da prioridade de vacinar a população. É preciso determinação e sentido de Estado por parte das autoridades. E também os partidos da oposição. Que o objectivo seja edificar, promover, alicerçar. Dispensa-se as habituais tricas, a espuma analítica e as intervenções políticas carregadas de ruído e de intriga, que não nos servem para nada.