D. Nuno Brás lembra que o valor da vida humana foi colocada em relevo
O bispo do Funchal, D. Nuno Brás, considerou hoje, na homilia na Missa do Final do Ano e Te Deum, que “o valor da vida humana foi colocado em relevo”, na sequência da pandemia de covid-19 que afecta o mundo.
“Diante do perigo, havia que salvar. Diante da morte, havia que procurar a vida. De todos. De um modo particular, dos mais vulneráveis, sobretudo dos mais velhos e frágeis. Pena que - enquanto os médicos e enfermeiros se desdobravam em esforços para salvar - nem todos tivessem entendido este apelo da vida que surgiu do meio da crise, e que alguns dos nossos representantes não tivessem hesitado em aprovar a iníqua lei da legalização da eutanásia - como se alguém tivesse o direito a exigir ao Estado que considerasse a sua vida como indigna de ser vivida!”, vincou D. Nuno Brás, acentuando: “Neste ano, ficou clara a nossa fragilidade. Percebemo-nos impotentes e limitados. O medo — senão mesmo o pânico — instalaram-se no coração de muitos”.
O bispo do Funchal lembrou que “o correr do mundo escapou de modo claro à nossa vontade. Percebemos que não somos ilimitadamente livres, que nenhum ser humano nem a humanidade no seu todo é omnipotente. Se, por um lado, não somos marionetas de um destino já previamente determinado, também não somos os donos absolutos da nossa vida. Nem tudo se encontra nas nossas mãos”.
Num apelo à fé, D. Nuno Brás lembra que “o homem nosso contemporâneo tem a tendência a olhar apenas para o aqui e agora” e “entra em pânico quando o aqui e agora não decorrem segundo a sua vontade”. Ao contrário, sublinha, “o homem de fé vai adquirindo o olhar de Deus” e “esse olhar convida a ver mais longe, e a perceber que os acontecimentos do tempo presente (não raras vezes duros e negativos) fazem parte de um todo magnífico”.
D. Nuno Brás considera que este ano que estamos a terminar convida “a repensar os critérios do nosso quotidiano e da nossa vida”, acentuando que “a economia, a segurança, o prazer, o poder e mesmo a ciência e a técnica não são tudo” e que “devem ser olhados como instrumentos, meios, caminhos para a realização plena da nossa vida humana”.
“Convida-nos este ano que passou a dar mais valor ao outro. Convida a olhar o que fazemos e o que somos não apenas como modo de cada um chegar individualmente a uma vida melhor e feliz, mas como o modo que nos é dado para contribuirmos, cada um de acordo com as suas capacidades, para o bem de todos e para o bem da inteira humanidade.”
“Convida-nos este ano que passou à humildade — que o mesmo é dizer: à verdade. Convida a deixarmo-nos da ilusão de que somos tudo, podemos tudo, sabemos tudo. Convida-nos a deixarmo-nos da ilusão de que nos havemos de salvar pelos nossos meios e pelas nossas forças. Ao contrário: com os outros e com Deus, somos mais nós; somos mais fortes; somos mais felizes. Somos mais humanos.”
Concluindo, afirma que “a nós, cristãos, o ano que passou convida-nos a viver cada vez mais intensamente na fé. A deixar que toda a nossa existência seja vivida com Deus e para os outros nossos semelhantes. Convida-nos a recentrar a nossa vida em Deus. Convida-nos a tomar Deus a sério”.