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De alguma companhia

Tenho estado menos assíduo por estes dias. Os meus relâmpagos em terra estão cada vez mais esparsos. Dir-se-iam em gradual extinção, destino afinal de tudo. Ocasião que, festiva, aporta as suas angústias e que, para além dos votos de serenidade e de paz, consente o respirar da besta , alhures no labirinto. Entrementes, vez por outra, como agora, uma faísca...uma luz trémula de candeia ao vento. Nesta última terça-feira de 2020...

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O final de ano convida à retrospectiva. Cada um, no seu cada qual, que faça a sua. As seleções dos jornais da praça, condicionadas pelos interesses instalados, tornam tudo num jogo de cartas marcadas e, por isso, dispensam aqui os meus comentários. Na minha modesta opinião, considerando transitar ainda o assunto pelas altas esferas e o desassossegar ao nosso imaginário coletivo sobre O Espião Que Saiu do Frio, a personalidade deste ano, em Cabo Verde, talvez seja Alex Saad, o colombiano ao serviço da Venezuela, preso, a pedido da Interpol, na ilha do Sal. A justiça cabo-verdiana e com a “batata quente” nas mãos, que se crê soberana, mas não imune ao crivo, à crítica e à crise, não pode tardar em se pronunciar sobre este caso digno do saudoso John Le Caré. Com causa, espera-se, e, seguramente, com consequência.

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Algumas verdades, se não todas, são inconvenientes. Por isso, os extremistas, saídos do armário, criaram as verdades alternativas e as notícias falsas como amortecedores das realidades. É um ensaio sobre a cegueira coletiva. E nós, incautas da silva, continuamos a acreditar no Pai Natal, no sexo dos anjos e na vinda da Godot. E até ontem jurávamos ser verdade a morabeza e a saudade. Com inconveniências que sejam, meus caros, entremos mais lúcidos e mais dispostos a sair das molduras no ano de 2021...

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Sim, estou bissexto. Com ganas de desmontar quem vejo do outro lado do espelho. Estranha consciência do poder na rede social tem alguma gente que passa o tempo a se ver ao espelho, sentindo-se altíssima, no faz de conta da torre de marfim. Um vencido da vida achará que tudo isso é ser escriba de serviço, mas ledo engano. Prefere-se o poético viandante, entre o real e o onírico, kosmos de luz e sombra, pó e ventania, com que se lê os novos poemas de Arménio Vieira. De um livro a caminho...

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Nenhuma palavra separa o texto do seu contexto. Mesmo que transcenda no tempo e desloque as suas palavras e sílabas pelo espaço. Nenhuma palavra, fruto do pensamento, este grande mistério afinal, é solitária. No ínfimo e pela minúcia, espreita-lhe sempre alguma companhia. Analógica, digital, virtual, corporal, espiritual...quiçá impercetível companhia.

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