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Argentina é "uma sociedade melhor" após legalização do aborto

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O Presidente argentino, Alberto Fernández, considera que o seu país tem hoje "uma sociedade melhor, ao ampliar os direitos das mulheres", após o Senado aprovar a legalização do aborto.

Logo após a votação que legalizou o aborto, o Presidente argentino celebrou a aprovação do projeto-lei que ele mesmo impulsionou e que ajudou a aprovar ao persuadir o voto de cada senador indeciso.

"Hoje somos uma sociedade melhor que amplia os direitos das mulheres e garante a saúde pública", publicou Alberto Fernández nas redes sociais, destacando o seu primeiro triunfo político relacionado a uma promessa de campanha.

No entanto, segundo analistas, a vitória política leva o Chefe de Estado a perder um aliado argentino de peso: o Papa Francisco

Também chefe de Estado, o Papa Francisco tem, ao longo deste primeiro ano do mandato de Alberto Fernández, sido o maior aliado internacional do Governo argentino.

No entanto, Alberto Fernández, como impulsor da lei que permite a interrupção voluntária da gravidez até a 14.ª semana de gestação, e o Papa Francisco, como o argentino que lidera a instituição que mais rejeita o aborto, passaram a ser os máximos representantes de visões diametralmente opostas.

"Viver é, sobretudo, ter recebido a vida. Todos nascemos porque alguém nos desejou a vida", disse o Papa Francisco, logo após a aprovação no Senado argentino, durante a sua última audiência geral do ano no Vaticano.

Na terça-feira, antes do começo do debate no Senado argentino, o Papa tinha difundido outra mensagem através das redes sociais: "Toda a pessoa descartada é um filho de Deus".

O analista político Rosendo Fraga recorda que "o Papa contribuiu de forma decisiva para a Argentina obter um acordo de reestruturação da sua dívida externa com credores privados. Tinha sido um pedido de Alberto Fernández, que, mesmo assim, avançou com o aborto. Essa relação agora está ferida. Não haverá um conflito aberto, mas há um rompimento".

"O Papa estava a ajudar num acordo com o FMI e cumpria um papel fundamental, através da Igreja, na rede de contenção social num país com forte agravamento da crise económica", acrescenta o jornalista e biógrafo autorizado do Papa, Sergio Rubin.

"Alberto Fernández não terá mais o Pontífice ao seu lado. A nova lei abala o vínculo do Governo com a Igreja", conclui Rubin, autor de O Jesuíta.

Para Rubin, o Governo argentino ignorou que a maioria dos argentinos está contra a legalização do aborto, segundo todas as sondagens publicadas nas semanas prévias.

"A aprovação do aborto legal fere também o Papa porque acontece na sua própria pátria. Isso atinge Francisco perante os setores mais conservadores do Vaticano que questionam com força o perfil de abertura do seu pontificado", aponta Rubin.

"Alberto Fernández priorizou uma conquista política num ano de derrotas, mas os danos colaterais significam perdas que ainda não podem ser mesuradas na sua dimensão política e social", adverte o Rosendo Fraga.

A Igreja também deverá incentivar as ONG pró-vida e particulares a recorrerem à Justiça com base na Convenção dos Direitos da Criança e no Código Civil, diz Rubin.

A Constituição argentina considera os direitos de uma pessoa a partir da conceção, em sintonia com a visão da Igreja.

A popularidade do presidente Alberto Fernández vem em queda livre. Recuou para cerca de 30%, depois de ter alcançado 70% em abril.

Devido à quarentena de oito meses para conter a epidemia do coronavírus, a queda na economia argentina será mais profunda do que as dos seus vizinhos.

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