Nascida na Índia, a 3 de outubro de 1840, de pais anglicanos e devotos, Mary Jane Wilson ficou muito cedo sem a mãe, falecida um ano depois do seu nascimento. Sem condições para tratar da educação dos filhos, o pai, militar, fê-los regressar a Inglaterra e confiou-os a dois tios, ficando Mary Jane a viver com a tia Ellen James que a dotou de excelente formação, concluída na Suíça em 1857. Ellen James tratou, em particular, da jovem Jane que foi crescendo no seio do anglicanismo e na prática de um conjunto de valores entre os quais avultava sobretudo o da caridade, o da importância da educação e do amor aos pobres.
Em 1854 Mary Jane abandonou o ensino doméstico que até então fora o seu, e ingressou num colégio em Belstead, de onde passou para Nyon, na Suíça e Heidelberg, na Alemanha. Concluídos os estudos regressou a Inglaterra, onde, nesses tempos começava a divulgar-se o Movimento de Oxford, no qual se filiavam interessados em estudar a ligação possível entre a Igreja Anglicana e a Católica. Interessada pelo assunto, tornou-se leitora das obras de John Newman, um dos teóricos do Movimento, e a partir de então foi germinando nela a ideia de que o catolicismo lhe parecia mais adequado e servia melhor as suas aspirações.
Decidida a mudar de vida, foi para França onde contactou com o padre Chierici, um redentorista com o qual aprendeu o necessário para ser de novo batizada, agora como católica, e que também lhe ofereceu uma imagem de Nossa Senhora das Vitórias, invocação particularmente indicada para a situação que atravessava. Com efeito, a invocação de Nossa Senhora das Vitórias surgiu num momento em que as tropas de católicas de Luís XIII cercavam o porto protestante de La Rochelle, onde se deparavam com grandes dificuldades. A pedido do rei, multiplicaram-se em toda a França as orações por uma vitória, finalmente alcançada e em cuja homenagem o soberano mandou construir em Paris uma igreja dedicada a Nossa Senhora das Vitórias, que assim celebra uma derrota de protestantes às mãos de católicos.
Já muito perto da conversão total, em Mary Jane Wilson persistia uma dúvida a respeito da verdade da presença física de Cristo na Eucaristia, e ela rezava com fervor a Nossa Senhora das Vitórias em busca de um esclarecimento. As dúvidas dissiparam-se a 30 de abril de 1873, após uma noite de muita oração, e no ano seguinte a futura madre batizava-se e fazia a primeira comunhão no dia 11de maio.
Após a conversão, Mary Jane viajou por muitos sítios importantes para o catolicismo, nomeadamente Lurdes, Roma, Assis, Jerusalém, mas também estudou para se tornar enfermeira, profissão que se lhe adequava particularmente bem, e que acabou por determinar a sua vinda para a Madeira como acompanhante de uma senhora doente, em 1881, quando contava já 40 anos de idade.
A dedicação com que tratava a paciente notabilizou-a rapidamente, e a sua reputação chegou até o bispo do Funchal, D. Manuel Agostinho Barreto, que não hesitou em pedir-lhe que ficasse na Ilha, onde havia muito que fazer no campo da assistência, tanto a doentes como a pobres e ainda na área da educação. Consciente do número de crianças que não frequentavam a escola nem a catequese, da muita pobreza e muita doença sem tratamento, Mary Jane aceita o repto e logo em 1882 cria, na zona do Torreão, um dispensário, um hospital e uma pequena escola, na qual ensinava catequese às crianças desfavorecidas que a frequentavam. Em 1883 alargou a sua área de influência a S. Jorge onde também fundou uma escola.
Cada vez mais ciente da enormidade da tarefa que tinha pela frente, concluiu que para atingir todos os propósitos que pretendia precisava de auxílio, e com esse fim em vista, fundou então, uma Ordem religiosa – a Congregação Franciscana de Nossa Senhora das Vitórias, cujo dia se celebra a 15 de janeiro, data da fundação.
A 15 de julho de 1891 professavam as três primeiras irmãs da nova Congregação, na capela da Misericórdia de Santa Cruz, obra a que Mary Jane dedicou boa parte do seu tempo e energia, movimentando-se no sentido de obter recursos para recuperar o edifício, bastante arruinado. Reabilitado o prédio, logo ali pôs em funcionamento um hospital e uma farmácia para acudir à população.
Dentro daquela que foi a sua obra assistencial, importa realçar os cuidados de saúde que prestou em 1907 aos doentes de uma epidemia de varíola, severamente confinados no Lazareto e, nos meses do verão desse mesmo ano, a ajuda prestada no combate a uma outra doença grave – a pneumónica.
A dedicação e disponibilidade da Irmã para com estes pacientes foram reconhecidas pelo rei D. Carlos que lhe conferiu, também em 1907, o grau de Cavaleiro da Antiga e Mui Nobre Ordem de Torre e Espada do Valor, da Lealdade e do Mérito.
A chegada da República, em 1910, veio, porém, perturbar a continuação do trabalho da Irmã Wilson, que assistiu ao fim das Congregações religiosas e se viu expulsa da Madeira, tendo tido que regressar a Inglaterra.
No ano seguinte, contudo, depois de variadas e infrutíferas tentativas de voltar para a Ilha, a Madre Jane consegue obter uma autorização de regresso com base em problemas de saúde que requeriam o clima da Madeira para o tratamento. A fim de tornar a sua presença o mais discreta possível, a Irmã foi primeiro para Santa Cruz e depois para o Santo da Serra, de onde se mudou, finalmente para o Convento de S. Bernardino, em Câmara de Lobos, local em que faleceu em 1916.
A Madeira não se esqueceu dos abnegados serviços que recebeu por parte da Madre Jane Wilson e homenageou-a com duas esculturas, uma no Funchal e outra em Santa Cruz, atribuindo também o seu nome a duas artérias nas mesmas localidades.
Com entrada pela Rua do Carmo encontra-se ainda no Funchal o Núcleo Museológico Madre Jane Wilson, dedicado à sua vida e obra, enquanto prosseguem as diligências para a sua beatificação, cujo processo se iniciou em 1991.